domingo, 27 de fevereiro de 2011

A Igreja perseguida (História da Igreja 1)

Por Pedro Paulo Valente
Blog do Pedro

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 3)



TEXTO BASE:
Bem-aventurados os perseguidos por causa da justiça, pois deles é o Reino dos céus.
"Bem-aventurados serão vocês quando, por minha causa os insultarem, perseguirem e levantarem todo tipo de calúnia contra vocês.
Alegrem-se e regozijem-se, porque grande é a recompensa de vocês nos céus, pois da mesma forma perseguiram os profetas que viveram antes de vocês".
"Vocês são o sal da terra. Mas se o sal perder o seu sabor, como restaurá-lo? Não servirá para nada, exceto para ser jogado fora e pisado pelos homens.
"Vocês são a luz do mundo. Não se pode esconder uma cidade construída sobre um monte.
E, também, ninguém acende uma candeia e a coloca debaixo de uma vasilha. Pelo contrário, coloca-a no lugar apropriado, e assim ilumina a todos os que estão na casa.
Assim brilhe a luz de vocês diante dos homens, para que vejam as suas boas obras e glorifiquem ao Pai de vocês, que está nos céus".
Mateus 5:10-16
INTRODUÇÃO
Nesta aula nós iremos estudar os primeiros séculos da Igreja, do início da Igreja de Jesus com o evento de Pentecostes no ano 30 d.C. até o ano 313 d.C. em que antecede a aproximação da Igreja com o Estado.

O avanço do cristianismo até o ano 100
A construção do alicerce da Igreja com base na vida, morte e ressurreição de Cristo e sua fundação entre os judeus são importantes para se compreender a origem do cristianismo no judaísmo. A ruptura desses laços no Concílio de Jerusalém (Atos 15) antecede a pregação do Evangelho aos gentios por Paulo e outros, e também a emergência do cristianismo como uma religião separada do judaísmo.

A luta pela sobrevivência do cristianismo entre os anos 100-313
Nesse período, a Igreja teve sua existência constantemente ameaçada pela perseguição do Estado Romano. Os mártires e os apologistas deram a resposta da Igreja a esse problema externo. A Igreja também enfrentou o problema interno da heresia, que teve uma resposta cristã por parte dos polemistas.

SITUAÇÃO HISTÓRICA
Em Gálatas 4:4, Paulo chama a atenção para a era histórica da preparação providencial que antecedeu a vinda de Cristo à terra em forma humana: “Mas, quando chegou a plenitude do tempo, Deus enviou seu Filho...”. Os gregos e os romanos ajudaram a levar o desenvolvimento histórico até o ponto em que Cristo pudesse exercer o impacto máximo sobre a história de uma forma até então impossível.

Contribuições políticas dos Romanos
  1. Os romanos desenvolveram um senso de unidade da humanidade sob uma lei universal.
  2. A Pax Romana, expressão latina para a ‘paz romana’, foi um longo período de paz, gerada pelas armas e pelo autoritarismo, experimentado pelo Império Romano entre os anos 29 a.C. até 180 d.C.
  3. Os romanos criaram um ótimo sistema de estradas que ligavam as diversas províncias do Império, possibilitando viagens com mais rapidez e segurança.
 Contribuições intelectuais dos gregos
“Os romanos podem ter conquistado os gregos politicamente, mas os gregos conquistaram os romanos culturalmente.” Horácio
  1.  O Evangelho universal precisava de uma língua universal para poder exercer um impacto real sobre o mundo. Assim como o inglês no mundo moderno e o latin no mundo medieval erudito, o grego era a língua universal no mundo antigo.
  2. A filosofia grega preparou o caminho para a vinda do cristianismo destruindo as antigas religiões. Qualquer um que entrasse em contato com seus princípios. Fosse grego ou romano, logo perceberia que sua disciplina intelectual havia tornado sua religião politeísta tão ininteligível, em termos racionais, que acabavam por abandoná-la em favor da filosofia.
 Contribuições religiosas dos judeus
Por mais importantes que tenham sido as contribuições de Atenas e Roma como pano de fundo do cristianismo, as contribuições dos judeus se destacam como a herança do cristianismo.
  1. O judaísmo contrastava flagrantemente com a maioria das religiões pagãs, ao fundamentar-se num sólido monoteísmo espiritual.
  2. Os judeus ofereceram ao mundo a esperança de um Messias que estabeleceria a justiça na terra.
  3. Na parte moral da lei judaica, o judaísmo oferecia ao mundo o mais puro sistema ético existente, através do elevado padrão dos dez mandamentos que contratava com os sistemas éticos predominantes.
  4. O povo judeu preparou ainda mais o caminho para a vinda do cristianismo ao oferecer à jovem Igreja sua mensagem, o Antigo Testamento. No terceiro século antes de Cristo, o Antigo Testamento foi traduzido para o grego, sua primeira tradução, realizada criteriosamente por 72 rabinos (a Versão dos Setenta).
 SURGIMENTO E DESENVOLVIMENTO DA IGREJA
A Igreja nasce com o cumprimento da promessa de Jesus Cristo em enviar o Consolador que lideraria a sua Igreja, o Espírito Santo, no dia de Pentecostes (aproximadamente uma semana após sua ascensão). O livro de Atos narra que durante o ano 30 até aproximadamente 44 d.C., a igreja em Jerusalém manteve uma posição de liderança na comunidade cristã primitiva.
O crescimento da Igreja foi rápido. No dia de Pentecostes foi acrescentada a fé pelo menos três mil pessoas (At 2:41). O número de batizados chegou logo a cinco mil (At 4:4) Há menção de multidões se integrando à Igreja (At 5:14). Inclusive sacerdotes abraçaram a nova fé (At 6:7) entre os mebros da Igreja Primitiva em Jerusalém.
Esse crescimento rápido se deu sobre forte oposição dos judeus, incitados pelas autoridades eclesiásticas. Essa perseguição precoce e dura deu ao cristianismo o seu primeiro mártir, Estevão (At 8:1), e conseqüente dispersão dos cristãos, que serviu para que a mensagem fosse levada a outras partes do país (8:4) e também a outras nações. Não demorou para que surgisse uma forte igreja em Antioquia (At 11:19-30). Liderado pelo apóstolo Paulo surgiram as primeiras viagens missionárias que tinham a intenção de levar propositalmente o evangelho para povos que o desconheciam, fazendo discípulos e organizando igrejas locais (At 13-28). Porém foi apenas com o Concílio de Jerusalém (At 15) que os não judeus foram livremente aceitos na fé cristã.

As perseguições que a Igreja sofreu nos seus primeiros 30 anos foram todas oriundas dos judeus. A partir da década de sessenta o Império Romano passou a perseguir o cristianismo de forma bastante violenta. Por 250 anos (64 e 312) os cristãos sofreram esporádicas perseguições por sua recusa em adorar o imperador romano, considerados traidores e perturbadores da ordem civil, sendo passíveis de punição por execução. Essas execuções custaram a morte de dezenas de milhares de cristãos, e em muitas vezes de forma cruel. Porém, mesmo em tempos de perseguições intensas, o cristianismo continuou a sua propagação em toda a bacia do Mediterrâneo e o número de adeptos a fé cresceram rapidamente (alguns historiadores acreditam que o número de cristãos no início do terceiro século variava entre 5 e 10 milhões).

A organização da Igreja
O desenvolvimento da Igreja como organização foi feito pelos apóstolos sob a direção do Espírito Santo. Os apóstolos tomaram a iniciativa da criação de outros cargos na Igreja. Os novos oficiais deveriam ser escolhidos pelo povo, ordenados pelos apóstolos e precisavam ter qualificações espirituais próprias que envolviam a subordinação ao Espírito Santo. Esses novos oficiais podem ser divididos em duas classes: os oficiais carismáticos, escolhidos por Cristo e dotados de dons espirituais próprios, com funções basicamente inspiradoras (apóstolos); e os oficiais administrativos (presbíteros e diáconos).

DESAFIOS DA IGREJA

Perseguição – Cristo ou César
Enquanto fora vista pelas autoridades como parte do Judaísmo, que era uma religião lícita, a Igreja sofreu pouco. Mas assim que o cristianismo foi distinguido do Judaísmo e pôde ser classificado como sociedade secreta, ele recebeu a interdição do Estado Romano, que não admitia nenhum rival à obediência por parte de seus súditos. A religião somente seria tolerada se contribuísse para a estabilidade do Estado.
No ano 250, a perseguição deixou de ser local e intermitente para se tornar generalizada e violenta. A peste, a fome e a agitação civil assolavam o Império. E a opinião pública atribuía esses problemas à presença do cristianismo e ao conseqüente abandono de seus antigos deuses.

Cismas
A Igreja primitiva também sofreu com divisões. Um tema central dessa tensão era a idolatria. A perseguição criou problemas internos que necessitavam de solução. Qual seria a maneira de tratar aqueles que tinham oferecido sacrifícios em altares pagãos durante a perseguição movida por Décio (250), e aqueles que entregaram Bíblias na perseguição dirigida por Diocleciano (303), acusados de traidores, mas que arrependidos agora queriam retornar a Igreja. Uns queriam privá-los de qualquer comunhão com a Igreja; outros queriam aceitá-los após um período de prova.

Heresias
A Igreja teve que lutar muito contra o legalismo de judeus convertidos, que defendiam a obrigatoriedade da circuncisão e a observação da Lei. Alguns ainda negavam a divindade de Jesus e negavam os ensinos do apóstolo Paulo. Porém o maior perigo para a pureza doutrinária da fé cristã veio da filosofia grega. Muitos filósofos gregos que haviam abraçado o cristianismo queriam vestir a filosofia pagã com uma roupagem cristã.
Dentre os movimentos heréticos destaca-se o gnosticismo, o qual defende um dualismo entre a matéria (má) e o espírito (bom). No gnosticismo a salvação se dá pelo conhecimento (gnose), que liberta o espírito da escravidão do corpo. Ainda propunha dois deuses: o deus mal do Antigo Testamento para criar, e o bom para redimir. Essa corrente também rejeitava a humanidade, a morte sacrificial e a ressurreição corpórea de Cristo. E não aceitava os escritos do apóstolo João.

RESPOSTAS DA IGREJA

Martírio
Muitos cristãos tiveram que lidar com as perseguições nestes três primeiros séculos. Há relatos de que as prisões ficaram tão cheias de líderes cristãos e crentes comuns que não havia lugar suficiente para os criminosos. Os cristãos foram punidos com o confisco de bens, exílios, prisões ou execuções à espada ou por animais ferozes.
O rápido avanço do cristianismo, mesmo durante os períodos de feroz perseguição, provou que realmente o sangue dos mártires era a semente da Igreja (Tertuliano).
O cristianismo exigia fidelidade exclusiva de seus seguidores em assuntos morais e espirituais. Os cristãos que vivem hoje em países onde são perseguidos por sua fé devem ter a história da perseguição primitiva como guia.

Em defesa da fé
Nos séculos II e III, a Igreja explicou sua doutrina numa forma literária nova – as obras dos apologistas e dos polemistas. Os primeiros procuravam convencer os líderes do Estado de que os cristãos nada tinham feito para merecer a perseguição que estavam sofrendo. Os polemistas procuravam enfrentar o desafio dos movimentos heréticos. Esforçando-se para convencê-los da verdade da Bíblia através do argumento literário.
Justino, o Mártir (100-165) e Tertuliano (160-225) destacaram-se como os principais apologistas. Defendiam o cristianismo como a verdadeira filosofia, a divindade de Jesus. Tertuliano criou o vocabulário da fórmula trinitária (Trindade, uma substância e três pessoas) e da fórmula cristológica (duas substâncias ou naturezas e uma pessoa).
Já Irineu de Lião (130-195) foi um polemista antignóstico. Suas obras procuraram refutar as doutrinas gnósticas, com ênfase no propósito da encarnação de Cristo e na tradição da doutrina apostólica. Orígenes (185-254) produziu o primeiro grande tratado de teologia sistemática (Dos Primeiro Princípios), desenvolvendo um sistema alegórico de interpretação.

O cânon do Novo Testamento
O cânon, lista de volumes pertencentes a um livro autorizado, surgiu como um reforço à garantia da unidade da fé cristã frente às heresias que surgia dentro da Igreja. O desenvolvimento do cânon foi um processo demorado, basicamente encerrado em 175, exceto por uns poucos livros (Tiago, 2 Pedro, 2 e 3 João, Judas, Hebreus e Apocalipse).
O maior teste do direito de um livro estar num cânon era se ele tinha os sinais da apostolicidade. Ele havia sido escrito por um apóstolo ou por alguém ligado intimamente aos apóstolos. Daí a importância da verificação histórica de autoria ou influência apostólica, ou a consciência universal da Igreja, dirigida pelo Espírito Santo.

APLICAÇÃO
O apóstolo Paulo nos ensina que o propósito de Deus é que através da Igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja revelada e conhecida (Ef 3:10). Isso nos lembra do valor da Igreja e do intento de Deus de fazê-la prevalecer contra tudo àquilo que se levantar contra ela, ainda que seja o próprio inferno (Mt 16:18).
O estudo nos ajuda a observar esse zelo de Deus através da história, e nos estimula a perseverar conservando a integridade da doutrina dos apóstolos e a manter a confissão firme de nossa fé em Jesus Cristo, ainda que as circunstâncias sejam desfavoráveis a nós.

QUESTÕES
Você acha que os cristãos em Viçosa sofrem perseguição religiosa?
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Quais são os maiores desafios para ser cristão hoje em dia?
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Quais são os motivos das divisões da Igreja no Brasil?
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Quais são as heresias que a Igreja combate nos nossos dias?
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Se alguém lhe pedisse explicação da sua fé, o que você diria a esse pessoa?
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 MATERIAL UTILIZADO
• Cairns, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo 2008. Editora Vida Nova.
• McGrath, Alister E. Sistemática, Histórica e Filosófica. Uma Introdução a Teologia Cristã, São Paulo 2005. Shedd Publicações.
• Williams, Terri. Cronologia da História Eclesiástica, São Paulo 1993. Edições Vida Nova.

domingo, 20 de fevereiro de 2011

Recebendo o Espírito (aula 2)

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 2)

TEXTO BASE: Atos capítulo 2


PARA LER E PENSAR
Nosso esforço consiste em sermos fiéis ao evangelho pregado pelos apóstolos ao mesmo tempo em que o anunciamos de modo que as pessoas de hoje possam compreendê-lo.
Mas como? Para permanecer fiel à mensagem tenho encontrado ajuda nos eventos do evangelho, a saber, a morte e a ressurreição de Cristo, as testemunhas do evangelho, as escrituras dos apóstolos, as promessas do evangelho, o perdão dos pecados, a vinda do Espírito, e as condições do evangelho: arrependimento com fé e o batismo.
Não basta “proclamar Jesus”, pois há muitos ‘Jesus’ sendo anunciados hoje. Mas de acordo com o novo testamento, Jesus é Histórico (Ele de fato viveu, morreu, ressuscitou e subiu aos céus), Teológico (sua vida, morte, ressurreição e ascensão têm sentido para a salvação), e Contemporâneo (ele vive e reina para dar salvação aos que o recebem).
Nós temos hoje a mesma responsabilidade de contar a história de Jesus como fato e como evangelho.

A aula foi extraída do guia de estudos bíblicos: O Espírito em ação – John Stott, Editora Cultura Cristã

domingo, 13 de fevereiro de 2011

Aguardando o Espírito (aula 1)

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 1)

TEXTO BASE: Atos capítulo 1


PARA LER E PENSAR
Jesus disse aos discípulos que eles não necessitavam saber épocas e datas, mas que deviam saber que iriam receber poder para, entre a vinda do Espírito Santo no Pentecoste e a segunda vinda do Filho, serem suas testemunhas em círculos cada vez mais amplos. Na verdade, o período intermediário entre o Pentecoste e a volta de Jesus deve ser preenchido com a missão mundial da Igreja no poder do Espírito. Os seguidores de Cristo deveriam contar o que ele realizou na sua primeira vinda e convidar pessoas a serem suas testemunhas “até os confins da terra”.

A aula foi extraída do guia de estudos bíblicos: O Espírito em ação – John Stott, Editora Cultura Cristã