domingo, 14 de agosto de 2011

Anabatismo e Reforma Católica (História da Igreja VII)

Por Pedro Paulo Valente

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 25)

TEXTO BASE: Gálatas 1:1-9

INTRODUÇÃO
A Reforma Protestante, nome que os historiadores usaram para descrever os movimentos que buscavam corrigir a Igreja do século XVI, caracteriza-se por sua complexidade, pois não houve uma tentativa homogênea de reforma, mas ocorreram diversas ‘reformas’. Assim, geralmente, tais reformas são classificadas como: (1) luteranismo; (2) a igreja reformada, também designada como calvinista, (3) a reforma radical (anabatista) e (4) a reforma católica. Os programas para a reforma da igreja diferem em relação à tradição da Igreja antiga, e dentre elas a posição anabatista é a mais extrema, justificando o seu espírito radical.

NEM CATÓLICO NEM PROTESTANTE
Por José Cristiano de Oliveira Sampaio

Os principais reformadores rejeitavam, de modo geral, as tendências anabatistas, pois viam, com razão, certos perigos advindos da negação de doutrinas cristãs fundamentais. Todavia, não podemos deixar de reconhecer que a Reforma Radical também foi um movimento de renovação espiritual e eclesiástica que, além de negar a validade do batismo infantil, tema ainda discutível, também divergia em vários pontos. Essa é uma das razões porque os radicais permaneceram à margem das igrejas protestantes territoriais. O seu principal direcionamento era uma exacerbação do Sola Scriptura. Como afirma Timothy George (1994), eles desejavam não apenas reformar a Igreja, mas restaurá-la à sua pureza anterior, apostólica; isso, às custas até mesmo das ordenanças do Senhor (batismo e ceia), como advogava Kasper Schwenckfeld, acreditando que esses sacramentos seriam irrelevantes, haja vista que são atos aparentes e não o testemunho do Espírito. Outros questionavam a trindade e os dogmas cristológicos da Igreja Patrística.

Do ramo anabatista, Menno Simons (daí o termo menonitas) foi o líder mais importante, pois era talvez o mais equilibrado naquele grupo. Menno nasceu em 1496, no que é hoje a Holanda, e foi ordenado padre aos 28 anos de idade. Era um pároco fanfarrão. Gastava muito tempo bebendo e jogando cartas. Dizia não ter lido a bíblia até dois anos após a sua ordenação, mas, como os outros reformadores, teve um encontro com a Palavra de Deus e isso, é óbvio, mudou o curso da sua vida. A partir de 1525, enquanto se organizavam as primeiras congregações anabatistas em sua pátria, desatou a questionar o dogma da transubstanciação. Ele relatou que sempre que tomava o pão e o vinho na missa, eles não eram a carne e o sangue do Senhor e pensava que o demônio estava sugerindo isso. Tal idéia o afligiu muito e foi motivo incessante de confissões e penitências. Não se pode afirmar o que fez Menno questionar a missa, porém se sabe que ele havia lido panfletos de Lutero de 1520, nos quais o reformador alemão descrevia a transubstanciação como nada mais que uma invenção humana sem nenhuma base nas Escrituras. No entanto, Menno, dissimuladamente, celebrava as missas, mesmo não lhes atribuindo o valor de sacrifício.

A ruptura definitiva de Menno com Roma demoraria alguns anos. Logo, não mais reconhecia o valor do batismo infantil, mas continuava padre. Um evento, todavia, foi crucial para a tomada de rumo que ele faria. O seu irmão, Pedro Simons, e outros trezentos anabatistas foram brutalmente mortos pelas autoridades locais, após resistirem por uma semana entrincheirados num castelo, em 1535. A partir dessa época, Menno começou a pregar abertamente contra os dogmas católicos que considerava equivocados e, durante quase um ano, tentou fazer reformas na igreja de Witmarsum. Na mesma época, pregava contra o uso da violência praticado mesmo por anabatistas, a ‘filosofia da espada’.

Para todos os radicais, o verdadeiro cristianismo constituía-se em uma experiência pessoal e individual. Nesse sentido, o novo nascimento era um pré-requisito para o batismo. Menno ensinava também que a fé era a resposta do homem a Deus e o que a caracterizaria era o verdadeiro arrependimento e não aquelas práticas externas como jejuns, peregrinações, abundantes ave-marias e pais-nossos. Ele cria que a salvação é pela graça, mas discordava dos outros reformadores quanto à predestinação e à escravidão da vontade nos termos agostinianos defendidos por Lutero e Zuínglio (não conhecia Calvino), pois, entendia que a teologia daqueles reformadores era muito fatalista.
Menno Simons cria que a Igreja de Cristo caracterizava-se por sofrer perseguição, mas não perseguir. Ninguém pode ser compelido a aceitar o Evangelho. Com efeito, o próprio Menno foi duramente perseguido durante toda a sua vida e viu dois de seus filhos e sua mulher morrerem; ele morreu de causas naturais. “Se o cabeça teve de sofrer tal tortura, angústia, miséria e sofrimento, como poderiam os seus servos, filhos e membros esperar paz e liberdade quanto à sua carne?” Essa era a convicção do reformador frente às dificuldades no mundo. De fato, o seu contexto de vida não lhe permitiu escrever extensamente uma obra sistemática sobre a fé cristã, mas o seu principal livro marca o legado desse grande homem: ‘O Fundamento da fé Cristã’ que defendia com seu verso bíblico preferido: “ninguém pode lançar outro fundamento além do que foi posto, o qual é Jesus Cristo” (1 Co 3.11).

Os anabatistas são os ancestrais espirituais das igrejas Batistas e Menonitas. A grande contribuição do anabatismo para a igreja evangélica foi a ênfase na conversão através do arrependimento, através de uma experiência pessoal e necessariamente genuína.

REFORMA CATÓLICA

Devido à expansão da Reforma Protestante, com constante perda de fiéis e territórios, somada a crescente insatisfação do clero e dos imperadores católicos, uma resposta era necessária ser dada ao movimento protestante.

O auge da reforma católica se deu com os papas reformistas. O primeiro deles foi Adriano VI, sucedeu-lhe Clemente VII com um governo de nove anos. Os papas Paulo III, Paulo IV, Pio V e Sixto V cobriram um período que vai de 1534 a 1590, e foram os mais zelosos reformistas que presidiram a Santa Sé desde Gregório VII.

As finanças da Igreja foram reorganizadas e os cargos foram ocupados por padres e religiosos de reconhecida fama de disciplina e foram rigorosos com os clérigos que persistiam no vício e no ócio. A ação dos papas reformistas foi completada com a convocação do Concílio ecumênico que se reuniu na cidade de Trento. Os desdobramentos do Concílio foram:

• No campo doutrinal o Concílio reafirmou, sem exceção, os dogmas atacados pela Reforma Protestante, tratando entre outros temas sobre a questão da "justificação" e, contra as teologias luterana e calvinista, ensinou e declarou que "a graça divina e a cooperação livre e meritória da vontade humana operam em conjunto a justificação do homem.", definiu-se ser verdade também a doutrina dos sete sacramentos (batismo, crisma, confissão, eucaristia, ordem sacerdotal, matrimônio e unção dos enfermos).
• O Concílio confirmou, como elementos essenciais da religião católica, como verdades absolutas (dogmas) a transubstanciação, a sucessão apostólica, a crença no purgatório, a comunhão dos santos e reafirmou-se o primado e autoridade do Papa como sucessor de São Pedro.
• No campo disciplinar procurou-se com empenho a por fim nos abusos existentes no clero, e melhorou-se substancialmente a sua formação intelectual e cultural. Um episcopado plenamente dedicado ao serviço das almas, um clero bem formado e de elevada moralidade, foram metas da legislação do concílio.
• A formação do clero se faria nos seminários - tanto cultural como espiritual e obrigou-se aos párocos a ensinar a catequese às crianças e a dar doutrina e instrução religiosa aos fiéis. Os habitantes de terras descobertas foram catequizados através da ação dos jesuítas.
• Retomou-se o Tribunal do Santo Ofício e Inquisição: para punir e condenar os acusados de heresias e todos os outros que não aceitassem a autoridade da igreja romana.

O período que se seguiu ao Concílio de Trento foi marcado por uma grande renovação da vida católica. A reforma fundada nos decretos e nas constituições tridentinas foi levada a efeito pelos papas que se sucederam. Foi criado o "Index Librorium Proibitorium" (Índice de Livros Proibidos) para evitar a propagação de idéias contrárias à fé da Igreja Católica. Todos estes livros proibidos eram queimados, a Igreja Católica proibiu-os de serem lidos. Publicou-se uma Catecismo Romano.

Também são frutos e conseqüência da Reforma Católica levada a efeito pelo Concílio a renovação da arte sacra cristã, com o surgimento do Barroco que é o estilo artístico da Reforma Católica. Portugal e Espanha levaram a fé católica para além-mar. Hoje os católicos da América Latina e das Filipinas constituem a grande reserva demográfica da Igreja e do Cristianismo.

Extraído da Wikipédia 

APLICAÇÃO
Por José Cristiano de Oliveira Sampaio

É interessante mergulhar na história dos desdobramentos da Reforma Protestante porque nos propicia fazer o currículo do movimento evangélico de hoje, com todos os seus frutos, tanto bons quanto lastimáveis. É relevante estudar hoje a Reforma Protestante, pois, a despeito dos fatores sociais, políticos, econômicos e culturais que a engendraram, aquele movimento na Igreja do século XVI foi um mover do Espírito de Deus, o que precisamente dá à Reforma um significado permanente para a Igreja de Jesus. A pergunta a fazer é: como a teologia dos reformadores pode ajudar a Igreja moderna? A Igreja do XVI vivia uma crise espiritual aguda e, com as devidas proporções, ainda é muito semelhante ao que ocorre atualmente no incongruente movimento evangélico no Brasil e no exterior.

A solução encontrada pelos reformadores foi um retorno à Palavra de Deus, Sola Scriptura. Lá encontraram respostas para as suas mais profundas questões. Ao enfatizar o Sola Gratia estavam declarando a impossibilidade de autojustificação humana diante de Deus. As obras autônomas são ineficazes, Sola Fide é o mecanismo com que Deus nos agracia para nos salvar, porque o pecado corrompeu a liberdade de escolha do homem e Aquele que nos quer salvar nos elege em sua infinita soberania; assim, a vida não é vista de forma fatalista, mas como totalmente dependente d’Ele. Solus Christus destaca o senhorio de Cristo sobre a nossa salvação e sobre o todo do universo, pois tudo foi criado por Ele e para Ele, sendo Jesus o único mediador entre Deus e os homens. Diante da inefável grandeza de Deus que nos ama, somente podemos reconhecer que só a Ele é devida a glória. Dado que um neopelagianismo e o orgulho religioso nos cercam no meio evangélico, a mensagem dos reformadores ainda é muito pertinente, Soli Deo Gloria.

MEMORIZAR VERSÍCULO
Mas ainda que nós ou um anjo do céu pregue um evangelho diferente daquele que lhes pregamos, que seja amaldiçoado! Gálatas 1:8.
QUESTÕES
Quais as divergências dos reformadores com os anabatistas?
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Qual foi a reação da igreja Católica frente aos desdobramentos da Reforma Protestante?
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Como esses movimentos de “correção” reformaram a Igreja?
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Como a teologia dos reformadores pode ajudar a Igreja moderna?
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MATERIAL UTILIZADO
• Cairns, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo 2008. Editora Vida Nova.
• Textos de José Cristiano de Oliveira Sampaio escritos especialmente para a comemoração da Reforma Protestante no ano de 2010. Publicados originalmente no boletim da Igreja Esperança/BH.

• Movimento Reformado, por Alderi de Souza Matos. Universidade Mackenzie 
• Williams, Terri. Cronologia da História Eclesiástica, São Paulo 1993. Edições Vida Nova.
• Wikipédia - Contra-Reforma Católica <http://pt.wikipedia.org/wiki/Contrarreforma>

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