Blog do Pedro
A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 6)
TEXTO BASE: João 17
INTRODUÇÃO
Chegamos num período da história no qual a Igreja passará de perseguida pelo Império Romano à religião oficial do Estado. Durante o período de 313 a 590 d.C. o Cristianismo passará por um momento de desenvolvimento doutrinário através de diversos concílios realizados, do desenvolvimento de uma filosofia cristã e da influência Igreja nos assuntos políticos do Estado.
Nesta época a fé cristã também se espalhará entre os bárbaros através de diversos movimentos missionários nas fronteiras do Império Romano.
SITUAÇÃO HISTÓRICA
O Império Romano começou a se enfraquecer frente aos constantes ataques bárbaros, paralelamente o número de cristãos cada vez aumentava mais. O imperador vigente, Constantino (247-337), filho de mãe cristã (Helena), descobriu no cristianismo uma possibilidade de promover uma unidade em torno da fé cristã para salvar a cultura clássica e o Império frente aos ataques e a iminente desintegração que o ameaçava.
Uma série de políticas de favorecimento a Igreja começou a entrar em ação, iniciando com o Édito de Milão (313), no qual foi concedida liberdade de culto a Igreja, seguido de diversos outros editos como a recuperação dos bens confiscados durante as perseguições promovidas por Diocleciano (303 e 305), isenção do clero do serviço público, auxílio a Igreja pelo Império, entre outros.
Constantino ainda promoveu o Concílio de Nicéia para fortalecer a unidade da Igreja e por fim a disputas teológicas, principalmente sobre as questões da divindade de Cristo e a natureza da Trindade.
Porém, foi no governo de Teodósio, entre 380-381 que foi proclamado o edito que tornou o cristianismo a religião oficial do Império, e em 392 o Edito de Constantinopla que proibia o paganismo e tornando o cristianismo a religião exclusiva do Império.
Neste período, o cristianismo elevou o nível moral da sociedade ao ponto de a dignidade da mulher ser reconhecida, os espetáculos de gladiadores serem abolidos, os escravos receberem melhor tratamento, a legislação romana tornar-se mais justa e o avanço da obra missionária ter aumentado. Entretanto, houve também desvantagens, dentre as quais podemos destacar a interferência do governo em assuntos espirituais e teológicos da Igreja, o cristianismo ter se tornado um arrogante perseguidor do paganismo e o surgimento de hierarquia na Igreja a partir do bispo de Roma, concedendo a ele privilégios e poderes, dando subsídios para o desenvolvimento do papado.
O DESENVOLVIMENTO DOUTRINÁRIO
O período de 313-451 foi marcado por grandes controvérsias teológica, que resultaram em 7 concílios universais de líderes da Igreja para resolver os conflitos (Nicéia em 325, Constantinopla em 381, Éfeso em 431, Calcedônia em 451, II Constantinopla em 553, III Constantinopla em 680-681 e II Nicéia em 787). Esses concílios fizeram grandes formulações universais como os credos e estabeleceram os principais dogmas da Igreja Cristã.
A relação entre as pessoas da Trindade
A controvérsia era basicamente em torno da divindade de Cristo, e o primeiro concílio foi organizado para discutir a questão (Nicéia, 325), com a presença de mais de 250 bispos da Igreja.
Ário era um dos líderes que defendia que Cristo era divino, mas não Deus. E foi Atanásio (296-373), que com menos de 30 anos defendeu a idéia de que Cristo existiu desde a eternidade com o Pai e era de mesma essência com o Pai, embora fosse uma personalidade distinta. Ele insistia nessa interpretação porque cria que, se Cristo fosse menor do que ele mesmo afirmava ser, não poderia ser o Salvador dos homens.
Já o concílio de Constantinopla (381) condenou as idéias de Macedônio, que ensinava que o Espírito Santo era “ministro servo” no mesmo nível dos anjos. Isso era uma negação da verdadeira divindade do Espírito Santo.
É importante lembrar que o conceito da Trindade não foi elaborado nos concílios, pelo contrário, inclusive o vocabulário trinitário já havia sido criado por Tertuliano (160-220), mas foram discutidos e ratificados pela Igreja em defesa da fé cristã e em prol da unidade da Igreja.
Controvérsias sobre a relação entre as naturezas de Cristo
Várias controvérsias surgiram sobre as duas naturezas de Cristo. Alguns costumavam dar ênfase na divindade de Jesus enquanto outros valorizavam a sua humanidade. A pesar de dois concílios (Éfeso e Calcedônia) já terem condenado essas doutrinas, foi apenas no III concílio de Constantinopla (380-381) que a questão foi finalmente resolvida.
O concílio estabeleceu que Cristo era completo em sua divindade e completo em sua humanidade, verdadeiramente Deus e verdadeiramente homem, tendo duas naturezas, sem confusão, sem mudança, sem divisão, sem separação. Sendo que ambas as vontades, humana e divina, existiram em Cristo, a primeira se submetendo a segunda.
O processo da Salvação do homem
Agostinho (354-430) e Pelágio (360-420) tiveram um embate defendendo diferentes visões sobre o processo de salvação do homem. Pelágio defendia que a vontade humana tem um papel no processo de salvação, enquanto Agostinho havia descoberto que a vontade humana era insuficiente para livrá-lo do pântano onde se encontrava por causa do seu pecado.
Para Pelágio, todo homem é criado livre como Adão, tendo, portanto, a capacidade de escolher entre o bem e o mal. Cada alma é uma criação individual de Deus, não herdando por isso a contaminação do pecado de Adão. O homem não herda o pecado original de seu primeiro pai, sendo a vontade livre para cooperar com Deus no processo de salvação e santificação.
Agostinho se opôs ao que ele cria por considerar isto uma negação da graça de Deus, afirmando que a regeneração é uma obra exclusiva do Espírito Santo. O homem foi feito originalmente à imagem de Deus e livre para escolher o bem e o mal, mas o pecado de Adão atingiu a todos os homens, porque Adão era o pai da raça humana. A vontade do homem está totalmente corrompida pela queda, razão pela qual ele pode ser considerado totalmente depravado e incapaz de usar a sua vontade no que diz respeito ao problema da salvação. A salvação vem somente para os eleitos através da graça de Deus em Cristo.
As idéias de Pelágio foram condenadas no concílio de Éfeso (431). A Reforma Protestante também reafirmou a posição de Agostinho, embora até hoje ainda haja muito embate entre o conceito de eleição e livre-arbítrio.
O CRISTIANISMO NOS MOSTEIROS
Imagem: O Mosteiro da Batalha ou Mosteiro de Santa Maria da Vitória, é desde 2007 classificado pela UNESCO como Património da Humanidade e a em 7 de Julho de 2007 foi eleito como uma das 7 maravilhas de Portugal.
Vários fatores contribuíram para o surgimento do monasticismo dentro da Igreja. Vejamos alguns motivos:
1. A doutrina dualista sobre a carne e o espírito, com sua tendência a considerar a carne má e o espírito bom. A fuga do mundo, segundo se pensava, ajudava a pessoa a crucificar a carne e desenvolver a vida espiritual.
2. O elevado número de pessoas que se converteram a fé cristã e não foram devidamente discipuladas, contribuiu para trazer a igreja muitas práticas pagãs, causando a revolta de alguns. Associado a isso, acrescenta-se a decadência moral presente na igreja, na qual seus opositores enxergavam no monasticismo uma crítica à sociedade da época.
Os mosteiros desenvolveram técnicas sofisticadas para a agricultura, proporcionaram educação de nível superior e serviram de refúgio para aqueles que necessitavam de cuidado.
Entretanto também deixaram muito débito a se considerar. Muitos se isolaram e deixaram de contribuir com o mundo, favorecendo a arrogância espiritual e uma experiência de fé individual.
A IGREJA CATÓLICA ROMANA
Devido às preocupações com heresias e cismas na Igreja, o conceito de bispo monárquico foi se fortalecendo na Igreja, destacando-se 3 bispados proeminentes: Alexandria, Roma e Antioquia.
Bispo monárquico era aquele que liderava um grupo de pastores de uma determinada região.
Embora o sistema de governo criado pela Igreja visava manter a integridade da doutrina dos apóstolos, ele fortaleceu a concentração de poder sobre o bispo da capital do Império (Roma) no momento que o Cristianismo passou a ser a religião oficial do Império.
No ano de 590, Gregório I assumiu o trono episcopal de Roma e tornou-se o primeiro Papa da agora fortalecida Igreja Católica Romana, assumindo tanto o poder sacro quanto o régio, porque agora os governadores deveriam se submeter ao papa.
APLICAÇÃO
A oração sacerdotal de Jesus pelos seus discípulos (João 17) é bem propícia para refletirmos sobre esse período da história e reconhecer que esta oração tem se cumprido, além de nos ensinar muito sobre a obra de Deus.
Jesus nos lembra que a obra que Ele começou agora é destinada a nós, para que unidos por meio da Igreja possamos testemunhar da nossa fé. Essa unidade requer fé genuína e compreensão de que Jesus é Senhor, um com o Pai antes da fundação do mundo.
Ao mesmo tempo somos advertidos de que não pertencemos a esse mundo, e esse é um dos perigos que a Igreja enfrenta, o perigo de ser seduzida pelo poder desse mundo. Quando isso ocorre, confundimos nossa missão e corremos sério risco de perder Jesus de vista.
QUESTÕES
Observando a história do cristianismo, você acredita que ele contribui positivamente para transformar uma sociedade?
___________________________________________________________________
Como o conhecimento das controvérsias teológicas da Igreja pode contribuir para a sua fé hoje?
___________________________________________________________________
Quais as contribuições dos mosteiros e dos monges para a Igreja?
___________________________________________________________________
Quais os perigos que você enxerga na associação da Igreja com o Estado?
___________________________________________________________________
Você acha que o cristão deve se envolver com política? Por quê?
___________________________________________________________________
MATERIAL UTILIZADO
• Cairns, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo 2008. Editora Vida Nova.
• McGrath, Alister E. Sistemática, Histórica e Filosófica. Uma Introdução a Teologia Cristã, São Paulo 2005. Shedd Publicações.
• Williams, Terri. Cronologia da História Eclesiástica, São Paulo 1993. Edições Vida Nova.