domingo, 6 de março de 2011

Aurélio Agostinho, 354-430 d.C. (Biografia I)

Por Jan Tammadge

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 4)


Aurélio Agostinho, conhecido como Agostinho de Hipona ou Santo Agostinho foi um bispo, escritor, teólogo, filósofo, Padre latino e Doutor da Igreja Católica. Ele é uma das figuras mais importantes no desenvolvimento do cristianismo no Ocidente. Em seus primeiros anos, Agostinho foi fortemente influenciado pelo *maniqueísmo e pelo **neoplatonismo de Plotino, mas depois de tornar-se cristão ele desenvolveu a sua própria abordagem sobre filosofia e teologia. Ele aprofundou o conceito de pecado original e desenvolveu o conceito de Igreja como a cidade espiritual de Deus distinta da cidade material do homem. Seu pensamento influenciou profundamente a visão do homem medieval.

Agostinho nasceu em 354 na cidade de Tagaste, província de Souk Ahras, na época uma província romana no norte de África, na atual Argélia. Seu pai Patrício era pagão mas a mãe Mônica católica. Foi educado no norte de África, na literatura latina e nas práticas e crenças do paganismo resistindo os ensinamentos de sua mãe para se tornar cristão. Com dezessete anos foi para Cartago para continur a sua educação na retórica. Vivendo como um pagão intelectual e se entregando a uma profunda sensualidade ele tomou uma concubina, com a qual teve um filho, Adeodato.

Agostinho se tornou professor de retórica, buscando fama e fortuna estabeleceu uma escola em Roma, onde conheceu a filosofia maniqueísta. Depois de uns anos abandonou o maniqueísmo e abraçou o movimento cético da neoplatonismo. Sua mãe insistia para que ele se tornasse cristão junto com um amigo Simplicianus. Mas foi a oratória do bispo de Milão, Ambrósio, que teve mais influência sobre a conversão de Agostinho.
No verão de 386, houve uma mudança radical na vida do Agostinho. A chave para esta transformação foi à voz de uma criança invisível, que ouviu enquanto estava em seu jardim, que cantava repetidamente, "Tolle, lege"; "tolle, lege" ("toma e lê"; "toma e ler"). Ele tomou a carta de Paulo aos Romanos, e abriu ao acaso em 13:13-14, onde lê-se: "Não caminheis em glutonerias e embriaguez, nem em desonestidades e dissoluções, nem em contendas e rixas, mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo e não procureis a satisfação da carne com seus apetites". Todas as sombras da dúvida desapareceram. Decidiu se converter ao cristianismo, abandonar a sua carreira na retórica, encerrar sua posição no ensino, desistir de relacoes com a mulher dele, e dedicar-se inteiramente a servir a Deus e às práticas do sacerdócio. Ele encontrou paz e o proposito para a vida que nenhuma moda intelectual pôde prover. Ele experimentou o poder da graça de Deus.

Ambrósio batizou Agostinho, juntamente com seu filho, Adeodato, em 387, em Milão, e logo depois, em 388 ele retornou à África. Em seu caminho de volta à África sua mãe morreu, e logo após também seu filho, deixando-o sozinho, sem família. Ele vendeu seu patrimônio e deu o dinheiro aos pobres. A casa da família foi convertido em uma fundação monástica para si e um grupo de amigos. Em 391, ele foi ordenado sacerdote em Hipona e em 396, foi eleito bispo coadjutor de Hipona. Ele permaneceu nessa posição em Hipona até sua morte em 430.

Agostinho era um homem de poderoso intelecto e um enérgico orador, que em muitas oportunidades defendeu a fé católica contra todos seus inimigos. Um homem que comia com moderação, trabalhou incansavelmente, desprezando fofocas, rejeitando as tentações da carne, e que exerceu a prudência na gestão financeira conforme sua posição e autoridade de bispo. Sua vida não era tranqüila: missa diária, pregando até duas vezes ao dia, dando catequese, administrando bens temporais, resolvendo questões de justiça, atendendo aos pobres e órfãos, etc.

Agostinho foi também um autor prolífico em muitos gêneros — tratados filosóficos, teológicos, comentários de escritos da Bíblia, além de sermões e cartas. Deixou 113 obras escritas.


*O maniqueísmo é uma filosofia religiosa sincrética e dualística que divide o mundo entre Bem, ou Deus, e Mal, ou o Diabo. A matéria é intrinsecamente má, e o espírito, intrinsecamente bom.

**O neoplatonismo é uma forma de monismo idealista. Ensina a existência de um Uno indescritível do qual emanou uma sequência de seres menores. Os neoplatônicos não acreditavam no mal e negavam que este pudesse ter uma real existência no mundo. Algumas coisas eram menos perfeitas que outras. O mal, os neoplatônicos chamavam de imperfeição, de "ausência de bem". A perfeição humana e a felicidade poderiam ser obtidas neste mundo - adquiridas pela devoção à contemplação filosófica.


Sobre o livre arbítrio
Em seu livro do mesmo nome, Agostinho tenta provar de forma filosófica que Deus não é o criador do mal. Pois, para ele, tornava-se inconcebível o fato de que um ser tão bom pudesse ter criado o mal. A concepção que Agostinho teve do mal, estava baseada na teoria platônica, assim o mal não é um ser, mas sim a ausência de um outro ser, o bem. O mal é aquilo que "sobraria" quando não existe mais a presença do bem. Deus seria a completa personificação deste bem, portanto não poderia ter criado o mal.

Agostinho tenta explicar que a origem do mal está no livre-arbítrio concedido por Deus. Deus em sua perfeição, quis criar um ser que pudesse ser autônomo e assim escolher o bem de forma voluntária. O homem, então, é o único ser que possuiria as faculdades da vontade, da liberdade e do conhecimento. Por esta forma ele é capaz de entender os sentidos existentes em si mesmo e na natureza. Ele é um ser capacitado a escolher entre algo bom (proveniente da vontade de Deus) e algo mau (a prevalência da vontade das paixões humanas).

Entretanto, por ter em si mesmo a carga do pecado original de Adão e Eva, estaria constantemente tendenciado a escolher praticar uma ação que satisfizesse suas paixões (a ausência de Deus em sua vida). Deus, portanto, não é o autor do mal, mas é autor do livre-arbítrio, que concede aos homens a liberdade de exercer o mal, ou melhor, de não praticar o bem.

Tempo e Criação
No Livro Confissões Agostinho a fim de responder a asserção: “Do que faria Deus antes de criar o mundo?” o filósofo expõe seu pensamento a respeito do tempo e da criação. A resposta do Agostinho a tal pergunta é a de que Deus não estaria fazendo nada, pois não havia tempo antes desta terra ter sido criado por Deus, pois o tempo nada mais é do que uma criatura assim como o mundo e todas as coisas. Para ele, o tempo e o universo foram criados em conjunto, e Deus estaria fora deste contexto, pois ele é eterno e a eternidade não entra no tempo.

Para o filósofo, o tempo não tem existência por si mesmo e só pode ser apreendido por nossa alma por meio de uma atividade chamada de "distensão da alma". A distensão da alma, nada mais é do que a compreensão dos três tempos; pretérito, presente e futuro na alma, de modo que seja possível lembrar-se do passado, viver o presente e prever o futuro. Agostinho afirma que a alma é quem pode medir o tempo e essa "medição" atesta a existência do tempo apenas em caráter psicológico.

Agostinho tinha uma inteligência clara e um coração inquieto. As contribuições de Agostinho à igreja foram extremamente significativas. Ele foi uma figura de transição na historia da igreja. Ele defendeu o evangelho da graça de Cristo contra muitos oponentes – afirmando a culpa e a corrupção de todos os seres humanos por causa do pecado de Adão e a absoluta necessidade da graça salvadora de Deus. Também apresentou o Deus da Bíblia como um Deus trino, eterno, transcendente, infinito e perfeito (na obra A Trindade). O pensamento de Agostinho foi básico na orientação da visão do homem medieval sobre a relação entre a fé cristã e o estudo da natureza. Ele reconhecia a importância do conhecimento, mas entendia que a fé em Cristo vinha restaurar a condição decaída da razão humana, sendo, portanto mais importante. Agostinho afirmava que a interpretação da Bíblia deveria ser feita de acordo com os conhecimentos disponíveis, em cada época, sobre o mundo natural. Escritos como sua interpretação do livro bíblico do Gênesis, como o que chamaríamos hoje de um "texto alegórico", iriam influenciar fortemente a Igreja medieval, que teria uma visão mais interpretativa e menos literal dos textos sagrados.

Santo Agostinho não se preocupa em traçar fronteiras entre a fé e a razão. Para ele, o processo do conhecimento é o seguinte:
A razão ajuda o homem a alcançar a fé;
em seguida, a fé orienta e ilumina a razão;
e esta, por sua vez, contribui para esclarecer os conteúdos da fé.
Deste modo, não traça fronteiras entre os conteúdos da revelação cristã e as verdades acessíveis ao pensamento racional. O homem é uma alma racional que se serve de um corpo mortal e terrestre.

Pensamentos de Agostinho
  • Milagres não são contrários à natureza, mas apenas contrários ao que nós sabemos sobre a natureza.
  • Se dois amigos pedirem para você julgar uma disputa, não aceite, porque você irá perder um amigo; por outro lado, se dois estranhos pedirem o mesmo, aceite, porque você irá ganhar um amigo.
  • Se você acredita no que lhe agrada nos evangelhos e rejeita o que não gosta, não é nos evangelhos que você crê, mas em você.
  • Ter fé é acreditar naquilo que você não vê; a recompensa por essa fé é ver aquilo em que você acredita.
  • Orgulho não é grandeza, mas inchaço. E o que está inchado parece grande, mas não é sadio.
  • A esperança tem duas filhas lindas, a indignação e a coragem; a indignação nos ensina a não aceitar as coisas como estão; a coragem, a mudá-las.
  • No amor do próximo o pobre é rico; sem amor do próximo o rico é pobre.
  • Prefiro os que me criticam, porque me corrigem, aos que me adulam, porque me corrompem.
  • Se o homem soubesse as vantagens de ser bom, seria homem de bem por egoísmo.


Bibliografia:

  • Eckman James P. Panoram da História da Igreja Vida Nova. São Paulo. 2005
  • Keeley Robin. Fundamentos da Teologia Cristã Vida. São Paulo 2000
  • Cairns Earle. E. O Cristianismo Através dos Séculos São Paulo 1988
  • Wikipédia

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