domingo, 8 de maio de 2011

Martinho Lutero, 1483-1546 d.C. (Biografia III)

Por Pedro Paulo Valente

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 13)

Lutero em 1529 por Lucas Cranach

“Eu estou atado as Escrituras”

TEXTO BASE: Romanos 3:21-31

OS PRIMEIROS ANOS
Martinho Lutero (em alemão: Martin Luther) nasceu no dia 10 de novembro de 1483 em Eisleben, Alemanha. A posição e condição de seus pais eram originalmente humildes, e a profissão de seu pai era trabalhar nas minas; porém, é provável que por seu esforço e trabalho ajuntara uma fortuna para a sua família. Lutero foi prontamente iniciado nos estudos, e aos treze anos de idade foi enviado a uma escola de Magdeburgo, e dali a Eisenach, na Turíngia, onde permaneceu por quatro anos e recebeu o ensino superior de Latin, condição essencial para a sua entrada na universidade.

Em 1501, foi enviado à Universidade de Erfurt, onde passou pelos costumeiros cursos de lógica e filosofia. Aos vinte anos de idade, recebeu o título de licenciado, e passou logo a ensinar a filosofia de Aristóteles, ética e outros assuntos ligados à filosofia. Posteriormente, por indicação de seus pais, dedicou-se à lei civil, a fim de trabalhar como advogado; porém, foi separado desta atividade devido ao incidente relatado a seguir.

VOCAÇÃO MONÁSTICA
Ao andar certo dia pelos campos, foi lançado ao solo por um raio, e ficou tão apavorado que prometeu a Santa Ana tornar-se monge caso fosse poupado. Este fato afetou-o de tal modo que se retirou do mundo e enclausurou-se junto à ordem dos eremitas de Santo Agostinho.

Dedicou-se ali à leitura das obras de Santo Agostinho e dos escolásticos; porém, ao vasculhar a biblioteca, encontrou, acidentalmente, uma cópia da Bíblia latina que jamais havia visto antes. Esta atraiu poderosamente a sua curiosidade; leu-a ansiosamente e sentiu-se atônito ao perceber que apenas uma pequena porção das Escrituras era ensinada ao povo.

Fez a sua profissão de fé no mosteiro de Erfurt, após ter sido noviço durante um ano; e tomou ordens sacerdotais, ao celebrar a sua primeira missa em 1507. Um ano mais tarde lecionou teologia por um semestre na nova universidade de Wittenberg. Assim prosseguiu os seus estudos em Erfurt pelo período de quatro anos no mosteiro dos agostinianos, principalmente teológicos.

O PAVOR DO PECADO
Em Erfurt havia certo ancião no convento dos agostinianos, com quem Lutero, que pertencia à mesma ordem, como frade agostiniano, conversou sobre vários assuntos, especialmente a remissão dos pecados. Sobre este tema, este sábio padre foi franco com Lutero, ao dizer-lhe que o expresso mandamento de Deus é que cada homem creia particularmente que os seus pecados foram perdoados em Cristo; disse-lhe ainda que esta interpretação particular fora confirmada por São Bernardo: “Este é o testemunho que o Espírito Santo te dá em teu coração, quando diz: Os teus pecados te são perdoados. Porque este é o ensino do apóstolo, que o homem é livremente justificado pela fé”.

Estas palavras não serviram somente para fortalecer Lutero, mas também para ensinar-lhe o pleno sentido do ensino do apóstolo Paulo, que insiste tantas vezes na seguinte frase: “Somos justificados pela fé”. E, após ler as exposições de muitos sobre esta passagem, logo percebeu, tanto pelo discurso do ancião como pelo conselho que recebeu em seu espírito, o quão vãs eram as interpretações que antes havia lido nos trabalhos dos escolásticos. E assim, pouco a pouco, ao ler e comparar os ditos e os exemplos dos profetas e dos apóstolos, com uma contínua invocação a Deus, e com a excitação da fé pelo poder da oração, deu-se conta desta doutrina com a maior evidência.

DECEPICIONANTE VISITA A ROMA
Entre 1510-11, sete mosteiros de sua ordem tiveram uma divergência com o seu vigário geral. Lutero foi escolhido para ir a Roma e defender a sua causa. Lá ele viu um pouco da corrupção e luxúria da Igreja Romana e começou a compreender a necessidade de uma reforma. Passou muito tempo visitando igrejas e vendo as numerosas relíquias que estavam em Roma. Ficou chocado com a leviandade dos sacerdotes italianos, capazes de rezar várias missas enquanto ele rezava uma.

LUTERO E A BÍBLIA
Em 1511, Lutero foi transferido para Wittenberg. Durante o ano seguinte, tornou-se professor de Bíblia e recebeu o título de doutor em teologia. Lutero, então, passou a ensinar os livros da Bíblia no latin e, para fazê-lo melhor, começou a estudar as línguas originais da Bíblia (Grego e Hebraico). Aos poucos desenvolveu a idéia de que somente na Bíblia se podia encontrar a verdadeira autoridade. De 1513 a 1515, deu aulas sobre Salmos; de 1515 a 1517, sobre Romanos e depois, Gálatas e Hebreus.

A leitura do versículo 1:17 de Romanos convenceu-o de que somente pela fé em Cristo era possível alguém tornar-se justo diante de Deus. O estudo da Bíblia o levara a crer em Cristo somente para a sua salvação.

AS INDULGÊNCIAS E AS 95 TESES
Leão X, que sucedeu a Júlio II em março de 1513, teve o desígnio de reconstruir a magnífica Catedral de São Pedro em Roma, cujas obras haviam sido iniciadas por Júlio, mas que ainda precisava de muito dinheiro para ser concluída. Por esta razão, Leão X, em 1517, aprovou a concessão de indulgências gerais a toda Europa, em favor de todos os que contribuíssem com qualquer soma de dinheiro para a reedificação da catedral; e designou pessoas em diferentes países para proclamarem estas indulgências e receberem o dinheiro das mesmas. Estes estranhos procedimentos provocaram muito escândalo em Wittenberg e, de modo particular, inflamaram o zelo de Lutero. Neste caso, por ser incapaz de conter-se, estava decidido a declarar-se contrário a tais indulgências em todas as circunstâncias.


Por esta razão, na véspera do dia de todos os santos, em 31 de outubro de 1517, fixou publicamente, na igreja adjacente ao castelo naquela cidade, as noventa e cinco teses contra as indulgências, onde desafiava a qualquer que se opusesse a elas, fosse por escrito ou por debate oral.
Em pouco tempo toda a Alemanha tomou conhecimento do conteúdo dessas teses e elas espalharam-se também pelo resto da Europa. Embora tivesse sido pressionado de muitas formas - excomungado e cassado - para abandonar suas idéias e os seus escritos, Lutero manteve suas convicções. Suas idéias atingiram rapidamente o povo e essa divulgação foi facilitada pelo recém inventado sistema de impressão de textos em série.

A RESPOSTA DO PAPADO
Após 2 anos de embate entre Lutero e representantes do papa, em 15 de junho de 1520, Leão X advertiu Lutero, com a bula "Exsurge Domine", onde o ameaçava com a excomunhão, a menos que, num prazo de sessenta dias, repudiasse 41 pontos de sua doutrina, destacados pela Igreja.

Em outubro de 1520, Lutero enviou seu escrito "A Liberdade de um Cristão" ao Papa, acrescentando a frase significativa:
"Eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus".

MATRIMÔNIO E FAMÍLIA
Em abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a escaparem do cativeiro no Convento de Nimbschen. Entre essas freiras encontrava-se Catarina von Bora, filha de nobre família, com quem veio a se casar, em 13 de junho de 1525. Dessa união nasceram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaretha. Dos seis filhos, Margaretha foi a única que manteve a linhagem até os dias de hoje. Um descendente ilustre da família Lutero é o ex-presidente alemão Paul von Hindenburg.

O casamento de Lutero com a ex-freira cisterciense incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.

LEGADO DE LUTERO
Lutero morreu no dia 18 de fevereiro de 1546, com sessenta e três anos de idade. A herança de Lutero permanece até hoje na Igreja Protestante, como o pai de um movimento que procurava uma reforma na Igreja através das Escrituras como fonte exclusiva de autoridade para a fé cristã, proclamando a salvação pela fé genuína e pessoal em Jesus Cristo, o único mediador entre Deus e o homem.

Lutero foi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia para alemão, algo que não era permitido sem especial autorização eclesiástica. Com isso os alemães passaram a ter acesso as Escrituras no seu próprio idioma e um forte incentivo pela sua leitura e redescoberta dos ensinos da Palavra de Deus.

APLICAÇÃO
A vida de Lutero se assemelha muito a vida do rei Josias (2 Crônicas 34 e 35), um jovem que começou a reinar aos 8 anos e fez o que era reto perante o Senhor. Através de diversas reformas políticas e religiosas pôs fim a corrupção dos sacerdotes e da idolatria de Israel, reencontrando as Sagradas Escrituras e voltando-se para os seus ensinos. Tanto Josias quanto Lutero foram líderes de um avivamento espiritual na sua geração.

  • Qual o valor das Escrituras na reforma religiosa promovido por Josias e Lutero? Comente sobre o zelo que ambos tinham para com a Bíblia.
  • Por que Lutero valorizou tanto a Bíblia?
  • Como Lutero encontrou absolvição para os seus pecados?
  • Quais as divergências de Lutero com a Igreja Católica?
  • Qual a repercussão e as conseqüências dos ensinos e da reforma promovida e liderada por Lutero?
  • O que a vida de Lutero pode lhe inspirar no cotidiano?

MEMORIZAR VERSÍCULO
Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego. Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: "O justo viverá pela fé". Romanos 1:16-17
FILME LUTERO
O filme Lutero conta a história de Martinho Lutero, um padre alemão que inconformado com a decadência espiritual e moral da Igreja Católica, começa a questionar a igreja, a autoridade do Papa e o poder de Roma.

Com uma ótima produção, o filme é bastante envolvente. Mostra o lado absolutamente negro que a Igreja Católica estava envolvida e os motivos que levaram Lutero a escrever as 95 teses que iniciou a Reforma Protestante.



MATERIAL UTILIZADO
• Foxe, John. História da Vida e Perseguições de Martinho Lutero. Livro dos Mártires, 2003. Editora Mundo Cristão.
• César, Elben L. Conversas com Lutero. História e Pensamento, Viçosa/MG 2006. Editora Ultimato.
• Cairns, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo 2008. Editora Vida Nova.
• McGrath, Alister E. Sistemática, Histórica e Filosófica. Uma Introdução a Teologia Cristã, São Paulo 2005. Shedd Publicações.
• Williams, Terri. Cronologia da História Eclesiástica, São Paulo 1993. Edições Vida Nova.

Um comentário:

  1. o filme é bom,apesar de haver controvérsias quanto a veracidade de alguns fstos nele contidos.

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