domingo, 1 de maio de 2011

Igreja no início da Idade Média (História da Igreja 3)

Por Pedro Paulo Valente

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 12)



INTRODUÇÃO
O ano de 590 constituiu um divisor de águas entre o período antigo da história da Igreja e o período medieval, como o início de uma nova era de poder para a Igreja no Ocidente, inaugurada pelo papado de Gregório I. Um momento no qual a Igreja, liderada pelo bispo de Roma deteve o poder político do Império.

GREGÓRIO, O GRANDE
Nascido de uma família tradicional, nobre e rica de Roma, Gregório (540-604) recebeu uma formação jurídica que o prepararia para a vida pública. Em 573 tornou-se prefeito de Roma, porém logo depois abriu mão da herança que herdara e tornou-se monge, renunciado seu cargo político.

No ano de 590, Gregório foi escolhido bispo de Roma. Sua maior obra foi aumentar a influência política do bispo de Roma, e embora não reivindicasse para si o título de papa, exerceu todos os poderes e privilégios dos papas posteriores, tornando-se o primeiro papa universal.

Gregório foi o organizador do canto gregoriano, contribuindo para a forma da liturgia na Igreja Medieval. Ele também teve uma proeminência no campo da teologia, sendo considerado um dos grandes doutores da Igreja Ocidental. Ele sistematizou a doutrina e fez da Igreja uma potência na área da política.

Vejamos algumas das idéias de Gregório que influenciaram a teologia medieval:

• O homem é um pecador por nascimento e escolha, herdando de Adão o pecado como uma doença a que todos estão sujeitos.
• A vontade do homem é livre, porém a sua bondade foi perdida.
• A predestinação limitada aos eleitos.
• A graça não é irresistível, está fundamentada na presciência de Deus e no mérito do homem.
• As almas são purificadas no purgatório, antes de entrarem nos céus.
• A Bíblia foi inspirada por Deus, porém a tradição tem a mesma autoridade que as Escrituras.
• A ceia é um sacrifício do corpo e do sangue de Cristo que se repete todas as vezes que é celebrada – doutrina da transubstanciação.
• A importância das boas novas e a invocação dos santos para alcançar o favor de Deus.

SURGIMENTO E IMPACTO DO ISLAMISMO
O Islamismo teve suas origens na península árabe, através de Maomé (570-632), um mercador que chegou a ter contato com o Cristianismo e o Judaísmo através de viagens à Síria e Palestina, as únicas religiões monoteístas até então.

Em 610, Maomé sentiu um chamado divino para proclamar o monoteísmo. Maomé não rejeitou completamente o judaísmo e o cristianismo, duas religiões monoteístas já conhecidas pelos árabes. Em vez disso, informou que tinha sido enviado por Deus para restaurar os ensinamentos originais destas religiões, que tinham sido corrompidos e esquecidos.

Ele afirmava ter recebido a visita do anjo Gabriel, que lhe ordenou que recitasse uns versos enviados por Deus, e comunicou que Deus o havia escolhido como o último profeta enviado à humanidade. Maomé deu ouvidos à mensagem do anjo e, após sua morte, estes versos foram reunidos e integrados no Alcorão, durante o califado de Abu Bakr.

Como figura política, ele unificou várias tribos árabes, o que permitiu as conquistas árabes daquilo que viria a ser um império islâmico que se estendeu da Pérsia até a Península Ibérica.

As porções oriental e ocidental da Igreja se enfraqueceram com as perdas pessoais e territoriais para o islamismo. A sólida Igreja do norte da África desapareceu, e a Terra Santa e o Egito foram perdidos. Os islamitas resistiram obstinadamente aos esforços do papado e dos cruzados de reconquistar a Terra Santa e, desde então, tem resistido duramente a qualquer tentativa de missionários cristãos de propagação do cristianismo entre os mulçumanos.

A religião islâmica
A principal fonte da religião mulçumana é o Alcorão, composto por 114 capítulos, dos quais o maior fica no começo; os capítulos vão diminuindo em extensão até o último que tem apenas três versículos. O livro é repetitivo e desorganizado.

A crença em um Deus, conhecido como Alá, é o tema central do islamismo. Ala fez conhecida a sua vontade através de 25 profetas, entre os quais se encontram personagens bíblicos como Abraão, Moisés e Cristo; Maomé é porém o último e o maior dos profetas. Os mulçumanos negam a divindade de Cristo quanto a sua morte na cruz. Fatalista, a religião propõe uma submissão passiva à vontade de Alá. Após o julgamento, os homens gozarão de um paraíso sensual ou enfrentarão o terror do inferno.

O bom mulçumano ora 5 vezes ao dia com o rosto voltado a Meca. Jejum e obras de caridade são importantes. Os mulçumanos santos são aqueles que, pelo menos uma vez na vida, fazem uma peregrinação a Meca.

ATIVIDADES MISSIONÁRIAS
Enquanto grande parte da energia da Igreja Oriental foi gasta na luta para evitar que os mulçumanos conquistassem Constantinopla, a Igreja no Ocidente empreendeu várias campanhas missionárias entre os séculos VI e IX para expandir o evangelho a tribos e povoados até então ignorantes a cerca das boas novas de Jesus Cristo.

As atividades missionárias se concentraram nas Ilhas Britânicas, Alemanha, Países Baixos, Itália, Espanha e a Grande Morávia (correspondente as atuais República Checa, Eslováquia e parte da Hungria). Essa impetuosa conquista que, às vezes, convertia e batizava em massa tribos e nações inteiras, suscitou o problema do batismo sem uma experiência pessoal de fé. Esse é, sem dúvida, um problema perene da obra missionária onde quer que a conversão de um líder influente tenha resultado na aceitação coletiva do cristianismo, independentemente se os convertidos tiveram ou não uma experiência genuína de salvação.

A ORIGEM DA IGREJA ORTODOXA GREGA
A Igreja no Oriente esteve sob a jurisdição do Imperador, mas o papa em Roma estava longe de ser submetido ao seu controle. Na ausência de controle político efetivo no Ocidente, com a queda do Império Romano Ocidental (em 476), o papa tornou-se o líder temporal e espiritual em tempos de crise. Os imperadores eram quase papas no Oriente, e no Ocidente os papas eram quase imperadores. Isso deu as duas igrejas uma perspectiva diferente em relação ao poder temporal.

Outro fator de divergência entre as Igrejas foi a formulação de uma teologia ortodoxa. A mente grega do Oriente se interessava mais pela solução de problemas teológicos em termos filosóficos. A maioria das controvérsias teológicas entre 325 e 451 surgiu no Oriente, o que acirrava as disputas entre os bispos do Ocidente e Oriente.

A questão das imagens e esculturas nos templos foi outro fator de disputa entre as igrejas. Acusados pelos mulçumanos de idolatria, o imperador do Oriente, Leão III, em 739 ordenou que tudo, exceto a Bíblia, fosse removido das igrejas. Enquanto a igreja no Ocidente continuou a usar imagens e esculturas no culto, o que aumentou o antagonismo entre os dois grupos.

A interferência do papa na nomeação de patriarcas da Igreja no Oriente era mais um motivo que intensificava as más relações entre as duas igrejas.

E em 1054, todas essas diferenças e antagonismos se centralizaram em torno daquilo que parecia ser um problema menor. O patriarca de Constantinopla (Miguel Cerulário, 1043-1059) condenou a Igreja do Ocidente pelo uso de pão não-levedado na eucaristia. Por mais que o papa tentasse reconciliar os dois lados, as discussões não cessavam e a polêmica aumentava. No dia 16 de julho de 1054, o cardeal romano que representava o papa em Constantinopla colocou no altar superior da catedral de Santa Sofia um decreto de excomunhão do patriarca e seus seguidores. O patriarca não tardou em responder e anatematizou o papa de Roma e seus seguidores. Foi esse o primeiro grande cisma no cristianismo a romper com a unidade da Igreja.

Qualquer movimento ecumênico se tornou muito difícil depois dos amargos acontecimentos que separaram a Igreja do Ocidente e a Igreja do Oriente. As mútuas excomunhões só foram levantadas em 7 de Dezembro de 1965, pelo Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I, a fim de aproximar as duas Igrejas, afastadas havia séculos. As excomunhões, entretanto, foram retiradas pelas duas Igrejas em 1966. Somente recentemente o diálogo entre elas foi efetivamente retomado, a fim de tentar sanar o cisma.


APLICAÇÃO
O período da Igreja na Idade Média foi um momento de grande expansão do cristianismo, mas ao mesmo tempo de bastante confusão sobre a missão da Igreja.

A grande tentação neste período da história foi o poder e a riqueza que rondaram de perto e acabaram por se concentrar na Igreja institucionalizada, o que interferiu muito na sua pureza, teologia e missão.

QUESTÕES
Observando a história do cristianismo, você acredita que ele contribui positivamente para transformar uma sociedade?
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Quais as conseqüências do papado para o cristianismo?
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Qual o problema da adesão ao cristianismo sem uma experiência de fé pessoal e genuína, a qual denominamos ‘conversão’?
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Quais os perigos que você enxerga na associação da Igreja com o Estado?
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Quais os motivos do primeiro cisma da Igreja? E qual as conseqüências dessa divisão da Igreja?
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Por que Maomé criou uma religião ao invés de aderir a uma das religiões monoteístas já existentes?
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MATERIAL UTILIZADO
• Cairns, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo 2008. Editora Vida Nova.
• McGrath, Alister E. Sistemática, Histórica e Filosófica. Uma Introdução a Teologia Cristã, São Paulo 2005. Shedd Publicações.
• Williams, Terri. Cronologia da História Eclesiástica, São Paulo 1993. Edições Vida Nova.

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