domingo, 29 de maio de 2011

Florence Nightingale (Biografia IV)

Por Pedro Paulo Valente

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 14)
Escolhi os plantões, porque sei que o escuro da noite amedronta os enfermos.
Escolhi estar presente na dor porque já estive muito perto do sofrimento.
Escolhi servir ao próximo porque sei que todos nós um dia precisamos de ajuda.
Escolhi o branco porque quero transmitir paz.
Escolhi estudar métodos de trabalho porque os livros são fonte de saber.
Escolhi ser enfermeira porque amo e respeito a vida!

TEXTO BASE: Lucas 10:29-37

OS PRIMEIROS ANOS
Florence nasceu em 12 de maio de 1820 na cidade de Florença, na Itália. Por isso Florence recebeu o nome em inglês da cidade em que nascera. Oriunda de família cristã, rica e bem relacionada com a alta classe da sociedade, a menina recebeu excelente formação na infância. Nightingale estudou vários idiomas (francês, latim e alemão), música (piano e canto), artes e matemática.

As leituras bíblicas com a mãe e as constantes visitas a lugares pobres durante as caminhadas diárias, produziram em Florence uma compaixão por aqueles que sofrem. Desde a infância Nightingale sentia que Deus a estava "chamando", mas ela não sabia qual vocação seria essa. Sua fé era a força motriz ao longo de sua vida, e antes de seu 17º aniversário, ela sentiu que ouviu "a voz" de Deus falando com ela. Aos poucos sentia que Deus a estava chamando para ser enfermeira - uma idéia chocante para a época. Enfermagem não era um emprego para pessoas inteligentes e mulheres de boa aparência como a jovem Florence. Apenas mulheres com idade avançada e sem muitas opções de emprego exerciam a enfermagem para sobreviver. Seus pais ficaram horrorizados.

CONFLITO NA FAMÍLIA
Florence visitou muitas cidades européias quando jovem. Em 1948, numa visita a Roma ela aproveitou para conhecer conventos e hospitais administrados por freiras católicas. Um ano depois, Florence viajou para o Egito e Grécia, em busca de hospitais, bem como visitar as ruínas antigas. Ao invés de se esquecer da enfermagem como seus pais esperavam, a determinação de Nightingale, crescia ainda mais forte.

Florence se sentia cada vez mais aprisionada por sua vida de luxo e de deveres sociais - ou a "tirania" da sala, como ela escreveu. Sua família estava chateada e decepcionada com a sua obsessão com a enfermagem, e sua recusa em se casar. Florence foi proibida de passar alguns meses num hospital em Salisbury, porém ela não desanimou, e estudava enfermagem em segredo, desejando fazer algo maior com a sua vida e servir o próximo.

TORNANDO-SE UMA ENFERMEIRA
Florence, finalmente recebeu permissão dos pais para estudar enfermagem num centro de treinamento em Kaiserswerth, uma comunidade religiosa perto de Dusseldorf, na Alemanha, onde um pastor protestante, Theodore Fliedner, e sua esposa dirigiam um hospital, orfanato e colégio. Nightingale aprendeu sobre as propriedades dos medicamentos, como fazer curativos, observou amputações e cuidou dos doentes e moribundos. Ela nunca se sentiu tão feliz. "Agora eu sei o que é amar a vida", escreveu ela.

De volta à Inglaterra, a mãe de Florence finalmente permitiu que a filha fosse enfermeira. Ela conseguiu emprego numa casa particular de cuidados para mulheres da alta sociedade. Seu pai lhe dava uma generosa ajuda de 500 libras por ano.

Quando a cidade de Londres foi acometida por uma epidemia de cólera em 1854, Florence correu para ajudar as vítimas nas proximidades do hospital Middlesex. A cólera havia matado milhares de pessoas durante o século 19.

No outono de 1854, a Grã-Bretanha e a França se juntaram a sua aliada, a Turquia, e declaram guerra contra a Rússia na Criméia. Florence estava em casa quando leu no jornal sobre a falta de uma boa assistência médica para os soldados feridos na frente de batalha, centenas deles estavam morrendo de doenças devido a situação precária de atendimento e acomodação dos feridos. “As condições tornaram-se horríveis, devem os homens morrer em agonia e ignorados” escreveu o repórter do jornal britânico The Times. O escândalo provocou um clamor público.

Sidney Herbert, o ministro da Guerra, já sabia do interesse de Nightingale em ajudar, e pediu-lhe para supervisionar uma equipe de 38 enfermeiras nos hospitais militares na Turquia. Em novembro de 1854, ela chegou a Scutari, na Turquia, para encontrar os hospitais superlotados. Tudo era escasso - alimentos, cobertores e camas. As vítimas chegavam após uma longa viagem, sujas e muitas vezes quase mortas de fome.

A condição anti-higiênica dos hospitais militares permitia que doenças como cólera e tifo fossem comuns entre os pacientes. Isto significava que soldados feridos tinham sete vezes mais chances de morrer de uma doença hospitalar do que no campo de batalha. A melhoria nas condições sanitárias impostas por Florence resultou num decréscimo no número de mortes. Já em fevereiro de 1855 as taxas de mortalidade caíram de 60% pra 42,7%. Através do estabelecimento do suprimento de água fresca bem como da utilização de fundos próprios para comprar frutas, vegetais e equipamentos hospitalares, a taxa de mortalidade na primavera caiu para 2,2%.

As histórias de devoção de Florence para os feridos de guerra logo chegaram a Grã-Bretanha. A primeira imagem mostrando Florença como a "Dama da Lâmpada" apareceu nos jornais ilustrados de Londres no início de 1855. Sua fama logo se espalhou e imagens suas eram observadas em “suvenir”, e sua história era anunciada em músicas e poemas.

A COMISSÃO REAL
No retorno a Londres, em agosto de 1856, quatro meses após a assinatura do tratado de paz, Florence descobriu que os soldados durante os tempos de paz, com idades variando de 20 a 35 anos, tinham uma taxa de mortalidade que era o dobro da dos civis. Utilizando, estas estatísticas, ela mostrou a necessidade de uma reforma nas condições sanitárias de todos os hospitais militares. Com a divulgação do caso, ela ganhou a atenção da rainha Vitória e do príncipe Albert. Seu desejo, por uma investigação formal, foi atendido em maio de 1857 e levou ao estabelecimento da Comissão Real Sobre a Saúde nas Forças Armadas. Em 1858, por suas contribuições para as forças armadas e para a estatística hospitalar, Florence tornou-se a primeira mulher a ser eleita membro da Sociedade Estatística Real.

“Era chocante a alta taxa de mortalidade de soldados britânicos em tempos de paz. As condições no quartel do exército eram tão ruins, que poderia ser comparado com uma baixa anual de 1100 soldados em tempo de guerra.” Florence Nightingale
ESCOLA E O DESENVOLVIMENTO DA ENFERMAGEM
Durante a guerra da Criméia, um fundo público de formação de enfermeiros foi criado para homenagear Florence, mais de 44 mil libras foram arrecadadas, o equivalente a 2 milhões de dólares hoje. Com esse dinheiro foi inaugurada em 1860 a Escola de Treinamento Nightingale e a Casa das Enfermeiras sediadas no hospital St Thomas em Londres. O dinheiro do fundo também foi usado para criar uma escola de parteiras no King's College Hospital, em Londres.

As instituições foram baseadas em dois princípios. Primeiro que as enfermeiras deveriam receber treinamento prático em hospitais especialmente organizados para este fim. Segundo que as enfermeiras deveriam viver em uma casa baseada em princípios morais e de disciplina. Devido à fundação desta escola, Nightingale conseguiu com que a enfermagem passasse de um passado desprestigiado para uma carreira responsável e respeitável para as mulheres. Florence prestou, por solicitação do gabinete de guerra britânico, assessoria sobre cuidados médicos para as forças armadas no Canadá e foi também consultora do governo americano sobre saúde militar durante a guerra civil americana.

Em 1860 a sua obra mais conhecida foi publicada. Notas sobre a Enfermagem, no qual ressaltou a importância de observar os sintomas de seu paciente e suas necessidades, bem como a importância da limpeza, da ventilação de ar fresco e de uma dieta correta. Este foi o primeiro livro texto publicado especificamente para a utilização no ensino de enfermagem e foi traduzido para muitas línguas.

Florence estudou o projeto dos hospitais na Grã-Bretanha e na Europa. Ela sabia que a má concepção desses projetos prejudicaria o exercício da enfermagem e dos cuidados médicos. Os arquitetos e médicos de vários lugares do mundo pediram seu conselho para projetar hospitais modernos, como fez o rei de Portugal e a rainha da Holanda.

ANOS POSTERIORES
Por uma boa parte do resto da sua vida Nightingale esteve acamada devido a uma doença contraída na Criméia, febre tifóide, que a impossibilitou de continuar seu trabalho como enfermeira. Esta doença, entretanto, não a impediu de continuar fazendo campanha para a melhora dos padrões de saúde. Ela publicou cerca de 200 livros, relatórios e panfletos.

Florence Nightingale acreditava profundamente que o seu trabalho foi um chamado de Deus. Em 1874 ela tornou-se membro honorário da ASA (Associação Estatística Americana) e em 1883 a rainha Vitória a condecorou com a Cruz Vermelha Real por seu trabalho. Ela foi, também, a primeira mulher a receber a Ordem do Mérito de Edward VII em 1907.

Florence faleceu em 13 de agosto de 1910 aos 90 anos de idade. Ela foi enterrada na Igreja St. Margaret, em Londres. Nightingale nunca se casou, embora não tenha sido por falta de oportunidade. Ela acreditava, no entanto, que Deus tinha claramente sinalizado que ela seria uma mulher solteira.

O monumento Criméia, erigido em 1915, em Waterloo, Londres, foi executado em homenagem a contribuição que Florence Nightingale fez por esta guerra e pela saúdes dos soltados que nela tomaram parte.

O LEGADO DA ENFERMEIRA NIGHTINGALE
As idéias de Florence mudaram completamente a abordagem da sociedade para a enfermagem e seu legado permanece forte até hoje. Sua abordagem holística, para cuidar da saúde de uma pessoa, a importância do bem-estar físico e mental, e sua convicção de que é necessária sensibilidade às necessidades do paciente foi fundamental para a recuperação destes.

Florence trouxe prestígio a enfermagem, trouxe padronização aos procedimentos médicos, promoveu centros de formação de profissionais, produziu materiais didáticos para a instrução dos profissionais e desenvolvimento da ciência, sensibilizou a opinião pública quanto às situações precárias dos soldados e por fim, foi uma crítica severa à estupidez das guerras.

“É necessária uma certa dose de estupidez para se fazer um bom soldado.”

“A Enfermagem é uma arte; e para realizá-la como arte, requer uma devoção tão exclusiva, um preparo tão rigoroso, quanto a obra de qualquer pintor ou escultor; pois o que é tratar da tela morta ou do frio mármore comparado ao tratar do corpo vivo, o templo do espírito de Deus? É uma das artes; poder-se-ia dizer, a mais bela das artes!”

APLICAÇÃO
A vida de Florence Nightingale nos mostra o exemplo de alguém que levou o mandamento de Jesus – amar o próximo como a si mesmo – até as últimas conseqüências, alguém que encarnou a figura do bom samaritano da parábola de Jesus.

Florence atendeu ao chamado de Deus com muito zelo, e ainda adolescente compreendeu que fora chamada para servir aos que sofrem. Sua vida inspirou diversas pessoas, nas quais destacam-se duas:
  • Agatha Christie - Tornou-se voluntária da Cruz Vermelha Britânica, em Torquay, em outubro de 1914, onde ela cuidou de soldados que haviam lutado na Primeira Guerra Mundial. Ela foi voluntária até 1917, quando começou a distribuição de medicamentos para o hospital. Ela estudou para seu exame Hall Apothecaries, e aprendeu tudo sobre drogas, venenos e seus efeitos, conhecimento este que utilizou com maestria nos seus romances de ficção investigativa.
  • Madre Teresa - Mundialmente famosa missionária que fundou a ordem das Missionárias da Caridade. Ela não era uma enfermeira treinada, mas estabeleceu hospitais e lares de crianças, em primeiro lugar em Calcutá, na Índia, e depois em diversos outros lugares do mundo.


QUESTÕES
O que a vida de Florence nos ensina sobre o “chamado de Deus”?
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Como Nightingale se assemelha ao bom samaritano da parábola contada por Jesus?
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O quanto custou para Florence servir a Deus?
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Como a obediência de Nightingale mudou o mundo?
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MEMORIZAR VERSÍCULO
"Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma, de todas as suas forças e de todo o seu entendimento e ame o seu próximo como a si mesmo" Lucas 10:27

MATERIAL UTILIZADO

domingo, 22 de maio de 2011

Igreja no apogeu da Idade Média (História da Igreja IV)

Por Pedro Paulo Valente

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 13)

TEXTO BASE: II Tm 3:14-17

INTRODUÇÃO
Nos séculos XII e XIII, o cristianismo na Europa ocidental foi marcado por um zelo religioso que se manifestou em termos de participação em movimentos de cruzadas e reformas. Sobre a bandeira da Igreja Romana muitos cristãos batalhavam por motivos religiosos contra mulçumanos e hereges, enquanto movimentos de reformas eram ensaiados através das ordens monásticas e dos cristãos leigos (que não faziam parte do clero). Embora fosse um período de ardor espiritual, poucos sabiam o que estavam fazendo, uma vez que as Escrituras estavam distantes dos cristãos, ao passo que o poder por trás do trono papal não parava de aumentar.

SUPREMACIA PAPAL
No período de 1054 a 1305 d.C. três papas se destacaram num período que o papado se impôs como autoridade suprema para governar o mundo inteiro e a Igreja.

• Gregório VII (1023-1085) o primeiro a reivindicar o direito de supremacia papal sobre toda forma de autoridade, inclusive sobre imperadores e reis.
  • Defendia que a eleição dos papas deveria ser feita pelo clero.
  • Ele via o papa como vice-regente de Deus e não queria o poder civil dominando a Igreja, ao contrário, acreditava que a Igreja deveria controlar o poder civil.
  • Promoveu a obrigatoriedade do celibato clerical para criar uma classe de homens leais ao seu supervisor espiritual, o papa.
 • Inocêncio III (1160-1216), quem elevou o papado medieval ao apogeu de seu poder, tendo enfrentado e humilhado os soberanos das nações emergentes (França e Inglaterra) e do Sacro Império Romano que haviam desafiado sua autoridade.
  • Promulgou a doutrina da transubstanciação. O ensino de que a substância do pão e a do vinho se transformava no corpo e no sangue real de Cristo após as palavras de consagração dos sacerdotes. Desse modo, o sacerdote celebrava um sacrifício sempre que dirigia uma missa.
  • Achava que a autoridade os reis e príncipes derivavam dele, podendo ele mesmo excomungá-los, depô-los ou colocar até mesmo o Estado sob interdito, que proibia ao clero de celebrar todas as cerimônias essenciais da Igreja. O papa estava acima do homem e abaixo de Deus.
• Bonifácio VIII (1235-1303), o último a gozar do exercício da supremacia papal, tendo sido humilhado por parte do poder temporal (rei da França).
  • Promulgou a bula papal conhecida como Unam Sanctum. Nela dizia que não se pode encontrar “salvação nem remissão de pecados” fora da Igreja Romana, que o papa como chefe da Igreja Romana tinha autoridade espiritual e temporal sobre todos e que a submissão papal era “necessária para a salvação”.
 AS CRUZADAS
Durante os anos de 1095-1291 d.C. os cristãos da Europa Ocidental realizaram diversas cruzadas contra os mulçumanos na Palestina. Deve-se ter em mente que apesar dos cruzados terem interesses econômicos ou políticos, o motivo primeiro das Cruzadas era religioso.

A causa direta da Primeira Cruzada foi a pregação de uma Cruzada contra os mulçumanos feita pelo papa Urbano II em 1095. Ele propôs a Cruzada como resposta ao pedido de ajuda feito por Aleixo (Imperador de Constantinopla) um ano antes, com a idéia de libertar os lugares sagrados dos mulçumanos e ajudar o Império do Oriente. A multidão reunida, composta principalmente por franceses, respondeu com um entusiástico “Deus o quer” à proposta de Urbano.

Foi tão grande o entusiasmo que massas de camponeses começaram a marchar através da Germânica, Hungria e os Bálcãs em direção à Palestina. Porém sem organização e sem disciplinam essa desorganizada cruzada popular foi massacrada pelos turcos ou feitos prisioneiros e vendidos como escravos.

Já a Primeira Cruzada organizada, dirigida pelos nobres da França, Bélgica e Itália movimentaram perto de 1 milhão de pessoas que participaram de atividades ligadas a Primeira Cruzada. Num período de 3 anos (1096-1099) eles conquistaram Nicéia, Antioquia e Jerusalém, tendo a criação de estados feudais como resultado principal.



Ao todo foram 8 Cruzadas num período de 200 anos. A Cruzada das Crianças de 1212 foi o episódio mais triste. Ela ocorreu entre a Terceira e a Quarta Cruzada e foi um movimento extra-oficial, baseado na crença que apenas as almas puras (no caso as crianças) poderiam libertar Jerusalém. 50 mil crianças foram colocadas em navios, saindo do porto de Marselha (França) rumo a Jerusalém. O resultado foi um desastre, pois a maioria das crianças morreu no caminho, de fome ou de frio. As que sobreviveram foram vendidas como escravas pelos turcos no Norte da África. Algumas chegaram somente até a Itália, outras se dispersaram, e houve aquelas que foram seqüestradas e escravizadas pelos muçulmanos.

As Cruzadas deixaram importantes conseqüências políticas e sociais na Europa ocidental. Vejamos algumas:
  • O feudalismo se enfraqueceu porque muitos cavaleiros e nobres que saíram como cruzados jamais voltaram e também, porque muitos venderam as suas terras para financiar as campanhas. Com isso os reis puderam aumentar o seu controle, favorecendo uma nação-estado fortemente concentrada em um monarca a fim de criar condições de segurança e ordem tão necessárias aos negócios da classe média.
  • O papado aumentou seu prestígio durante as Cruzadas, embora as campanhas tenham levado ao surgimento de um sentimento nacional que, a certa altura, enfraquecera o poder papal nas nações-estados.
  • A persuasão substitui a força como técnica de negociação com os mulçumanos. E alguns movimentos missionários para o mundo árabe surgiram, como a escola de missões criada por Raimundo Lullo em Miramir (Espanha, 1276).
  • As cidades italianas, lideradas por Veneza, começaram a comercializar com o Oriente produtos de luxo, como tecidos, temperos e perfumes.
  • A filosofia, a ciência e a literatura árabe chegaram à Europa ocidental e foram estudadas pelos escolásticos, que tentaram fazer uma síntese entre esse saber e a revelação cristã.

Sugestões:

1.Para conhecer cada uma das Cruzadas visite Wickipédia

2.O filme Cruzadas, com Orlando Bloom conta a história entre a Segunda e a Terceira Cruzada, uma ótima forma de visualizar a História (apesar do romance distorcido).



MONASTICISMO
Muitas novas organizações surgiram no século XII como expressão do mesmo ardor religioso manifesto nas Cruzadas e na grande onda de construção de catedrais.

As Ordens Dominicana e Franciscana surgiram como respostas ao problema de trazer os mulçumanos e os hereges a fé pela persuasão, através da educação ou do esforço missionário. O zelo espiritual das Cruzadas provocou a fundação de ordens militares leigas. Todas essas ordens submetiam-se voluntariamente ao papa, sendo que o voto de obediência incluía a obediência ao papa e ao abade ou chefe da ordem. O movimento também satisfez o desejo medieval por uma vida ascética (renuncia do prazer em busca da espiritualidade) e permitiu aos interessados uma oportunidade de se engajarem em estudos de erudição.
  • Ordem cisterciense – foi fundada por um monge beneditino de nome Roberto, em Citeax (França, 1908). Os monges cistercienses davam grande ênfase na autonegação ascética, na simplicidade arquitetônica de suas construções e na organização centralizada. Eles davam mais atenção a agricultura do que as ocupações escolásticas.
  •  Ordens militares – um tipo de monasticismo que combinava a arte da guerra com a vida monástica. A ordem dos Cavaleiros Hospitalários (ou de São João) foi fundada no começo do século XII para defender os peregrinos e cuidar dos doentes. No início de sua história era equivalente a Cruz Vermelha de hoje, porém mais tarde a ordem tornou-se uma organização estritamente militar para defender dos pagãos a Terra Santa (Palestina). Os Cavaleiros Templários foram organizados em 1118, e adotaram a regra cisterciense de vida monástica, dedicados a defender a Terra Santa dos cruéis assaltos dos mulçumanos.
  •  Os frades – o nome frade vem do latim frater e significa irmão. Eles prestavam votos de pobreza, castidade e obediência; entretanto, em vez de viverem em comunidades monásticas para trabalho e oração separadas do mundo, eles viviam entre o povo das cidades para servi-lo e para pregar ao povo na sua língua (as missas eram realizadas em latim). Os mosteiros tinham propriedades e se auto-sustentavam pelo trabalho, já os frades se mantinham graças às doações e esmolas recebidas do povo. Destacam-se os frades franciscanos (Ordem fundada por Francisco de Assis, 1182-1226) e os dominicanos (Ordem fundada por Domingos, 1170-1221). Enquanto os franciscanos foram grandes missionários, convertendo os homens pelo exemplo e pelo apoio emocional, os dominicanos foram grandes eruditos que tentaram converter os homens da heresia através da persuasão intelectual. O apelo dos dominicanos era à cabeça do homem, enquanto o dos franciscanos era ao coração.
PENSADORES CRISTÃOS - ESCOLASTICISMO
A Igreja pode praticar a separação da cultura, ou pode praticar a síntese. Os escolásticos optaram pela síntese. Começando nas escolas de catedrais e de mosteiros, o movimento se expandiu com o surgimento das universidades européias no século XIII. O termo “escolasticismo” e “escolástico” vêm da palavra grega schole, que significa o lugar onde se aprende.

O escolasticismo pode ser definido como a tentativa de racionalizar a teologia para que se sustente a fé com a razão. Eles reconciliavam a filosofia, conquistada por processos racionais, com a teologia especial revelada da Bíblia, aceita pela fé.

Os escolásticos não estavam interessados em buscar a verdade, mas em organizar racionalmente um corpo de verdades aceitas, para que, vindo a verdade da revelação através da fé ou da filosofia através da razão, pudesse constituir um corpo harmônico. Para eles, os dados ou o conteúdo de seu estudo estavam fixados definitivamente e absolutamente.

Tomás de Aquino (1225-1274)

Tomaz de Aquino foi sem dúvida o grande nome desta época. Vindo de berço nobre, fez-se monge dominicano e dedicou-se a estudar. Sua grande obra foi Summa Theologiae, na qual procurou harmonizar as áreas da fé e da razão numa totalidade de verdade. Como ambas vêm de Deus, não pode haver contradição entre elas, dizia Tomás.

A Summa Theologiae consiste em 3000 artigos, com mais de 600 questões em três grandes seções. Ela pretendia ser uma exposição sistemática de toda a teologia. Tornou-se, então, a exposição clássica do sistema da Igreja Católica Romana.

Surgimento das universidades
Como centro de ensino e pesquisa a universidade começou por volta de 1200. Em 1400 havia mais de 75 universidades em toda Europa. Embora já existisse o ensino de nível superior, com a criação das universidades a maior parte da educação deixou de ser centralizada nas escolas monásticas e catedrais. As universidades de Oxford e Cambridge datam dessa época.

APLICAÇÃO
Por muitas vezes a igreja institucionalizada confundiu sua missão no mundo. Sempre que isso ocorreu dois fatores sempre estiveram diretamente ligados a essa confusão, o primeiro foi o distanciamento das Escrituras e o segundo foi a ambição pelo poder.

O apóstolo Paulo nos diz na sua segunda carta a Timóteo que a Escritura é inspirada por Deus, contendo em si mesma toda autoridade para nos ensinar, repreender, corrigir e nos educar na justiça. Toda vez que nos afastarmos dela e tentamos substituí-la por qualquer outra fonte de revelação estaremos correndo sérios riscos de nos distanciarmos de nossa missão, de substituir a promoção da verdade pelo engano, da justiça pela injustiça, do amor pelo ódio e a intolerância (II Tm 3:16-17). Devemos lembrar que a Igreja primitiva permanecia na doutrina dos apóstolos (Bíblia) e por isso era bem sucedida na sua missão de proclamar e promover o reino de Deus (Mt 5:13-16).

O poder é uma tentação que todos nós estamos sujeitos, é o desejo de querer dominar e subjugar o próximo aos seus caprichos e desejos. Jesus, embora sendo Deus, na sua encarnação foi tentado pelo diabo quanto ao poder (Mt 4:8-11), mas não se submeteu a sua tirania. Simão, um mago que havia se convertido, desejou o poder do Espírito Santo que estava sobre os apóstolos e inflamando seu coração de maldade sugeriu comprá-lo para dominar sobre seus conterrâneos (At 8:9-24). Paulo nos lembra que muitos homens perversos e impostores irão de mal a pior, ora enganado e ora sendo enganados, nessa corrida louca pelo domínio (II Tm 3:1-13). Jesus nos lembra que no reino de Deus não existe esta disputa de poder, o maior deve ser como o menor, quem preside deve servir e quem se exaltar será humilhado (Mt 23:11-12; Lc 22:24-27).

QUESTÕES
Quais as conseqüências do papado para o cristianismo?
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Como e por que os cristãos se envolveram com as cruzadas?
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Quais as contribuições do monasticismo ao cristianismo e ao mundo?
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Você concorda com essa frase de John Stott: crer é também pensar? E o lema da ABU: fé que pensa e razão que crê?
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Qual o lugar das Escrituras na fé cristã?
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MATERIAL UTILIZADO
  • Cairns, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo 2008. Editora Vida Nova.
  • Williams, Terri. Cronologia da História Eclesiástica, São Paulo 1993. Edições Vida Nova.

domingo, 15 de maio de 2011

Filipe, o evangelista

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 12)

TEXTO BASE: Atos 8:1-40


PARA LER E PENSAR
As pessoas com quem Filipe dividiu as boas novas eram diferentes em raça, posição e religião. Os samaritanos eram de raça mista, meio israelitas e meio gentios, e asiáticos; o etíope era um africano negro, embora provavelmente judeu de nascença. Quanto à disposição, presume-se que os samaritanos fossem cidadãos comuns, enquanto o etíope era um funcionário público destacado, a serviço da coroa. As diferenças religiosas incluem o fato de os samaritanos reverenciarem Moisés, mas rejeitarem os profetas, enquanto o etíope estava retornando de uma peregrinação e estava lendo precisamente um dos profetas rejeitados. Porém, apesar das diferenças quanto à origem racial, à classe social e à religião, Filipe apresentou-lhes as mesmas boas novas a respeito de Jesus.
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A aula foi extraída do guia de estudos bíblicos: O Espírito em ação – John Stott, Editora Cultura Cristã

MAPA DAS VIAGENS DE FILIPE

quarta-feira, 11 de maio de 2011

As 95 Teses de Martinho Lutero


As 95 Teses afixadas por Martinho Lutero na Abadia de Wittenberg a 31 de outubro de 1517, fundamentalmente "Contra o Comércio das Indulgências":

Movido pelo amor e pelo empenho em prol do esclarecimento da verdade, discutir-se-á em Wittemberg, sob a presidência do Rev. Padre Martinho Lutero, o que segue. Aqueles que não puderem estar presentes para tratarem o assunto verbalmente conosco, o poderão fazer por escrito.

Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. Amém.

1ª Tese
Dizendo nosso Senhor e Mestre Jesus Cristo: Arrependei-vos... etc., certamente quer que toda a vida dos seus crentes na terra seja contínuo e ininterrupto arrependimento.

2ª Tese
E esta expressão não pode e não deve ser interpretada como referindo-se ao sacramento da penitência, isto é, à confissão e satisfação, a cargo dos sacerdotes.

3ª Tese
Todavia não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda sorte de mortificação da carne.

4ª Tese
Assim sendo, o arrependimento e o pesar, isto é, a verdadeira penitência, perdura enquanto o homem se desagradar de si mesmo, a saber, até à entrada para a vida eterna.

5ª Tese
O papa não quer e não pode dispensar de outras penas além das que impôs ao seu alvitre ou nem acordo com os cânones, que são estatutos papais.

6ª Tese
O papa não pode perdoar dívida, senão declarar e confirmar aquilo que já foi perdoado por Deus, ou então o faz nos casos que lhe foram reservados. Nestes casos, se desprezados, a dívida em absoluto deixaria de ser anulada ou perdoada.

7ª Tese
Deus a ninguém perdoa a dívida sem que ao mesmo tempo o subordine, em sincera humildade, ao ministro, seu substituto.

8ª Tese
Cânones poenitentiales, que são as ordenanças de prescrição da maneira em que se deve confessar e expiar, apenas são impostos aos vivos, e, de acordo com as mesmas ordenanças, não dizem respeito aos moribundos.

9ª Tese
Eis por que o Espírito Santo nos faz bem mediante o papa, excluindo este de todos os seus decretos ou direitos o artigo da morte e da necessidade suprema.

10ª Tese
Procedem desajuizadamente e mal os sacerdotes que reservam e impõe aos moribundos penitências canônicas ou para o purgatório a fim de ali serem cumpridas.

11ª Tese
Este joio, que é o de transformar a penitência e satisfação, prevista pelos cânones ou estatutos, em penitência ou penas do purgatório, foi semeado enquanto os bispos dormiam.

12ª Tese
Outrora canônica poenae, ou seja, penitência e satisfação por pecados cometidos, eram impostos, não depois, mas antes da absolvição, com a finalidade de provar a sinceridade do arrependimento e do pesar.

13ª Tese
Os moribundos tudo satisfazem com a sua morte e estão mortos para o direito canônico, sendo, portanto, dispensados, com justiça, de sua imposição.

14ª Tese
Piedade ou amor imperfeitos da parte daquele que se acha às portas da morte, necessariamente resultam em grande temor; logo, quanto menos o amor, tanto maior o temor.

15ª Tese
Este temor e espanto em si tão só, sem nos referirmos a outras coisas, basta para causar o tormento e o horror do purgatório, pois se avizinham da angústia do desespero.

16ª Tese
Inferno, purgatório e céu parecem ser tão diferentes quanto o são um do outro o desespero completo, incompleto ou quase desespero e certeza.

17ª Tese
Parece que assim como no purgatório diminuem a angústia e o espanto das almas, também deve crescer e aumentar o amor.

18ª Tese
Bem assim parece não ter sido provado, nem por boas razões e nem pela Escritura, que as almas do purgatório se encontram fora da possibilidade do mérito ou do crescimento no amor.

19ª Tese
Parece ainda não ter sido provado que todas as almas do purgatório tenham certeza de sua salvação e não receiem mais por ela, não obstante nós termos esta certeza.

20ª Tese
Por isso o papa não quer dizer e nem compreender com as palavras “perdão plenário de todas as penas” o perdão de todo o tormento, mas tão só as penas por ele impostas.

21ª Tese
Eis por que erram os apregoadores de indulgências ao afirmarem ser o homem perdoado de todas as penas e salvo mediante indulgência do papa.

22ª Tese
Com efeito, o papa nenhuma pena dispensa às almas do purgatório das que, segundo os cânones da igreja, deviam ter expiado e pago na presente vida.

23ª Tese
Verdade é que se houver qualquer perdão plenário das penas, este apenas será dado aos mais perfeitos, que são muitos poucos.

24ª Tese
Logo, a maioria do povo é ludibriado com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando-se o homem singelo com as penas pagas.

25ª Tese
Exatamente o mesmo poder geral que o papa tem sobre o purgatório, qualquer bispo e cura d’almas o tem no seu bispado e na sua paróquia, quer de modo especial e quer para com os seus em particular.

26ª Tese
O papa faz muito bem em não conceder o perdão às almas em virtude do poder das chaves (coisa que não possui), mas pela ajuda ou em forma de intercessão.

27ª Tese
Pregam futilidades humanas quantos alegam que no momento em que a moeda soa ao cair na caixa a alma se vai do purgatório.

28ª Tese
Certo é que, no momento em que a moeda soa na caixa, vem lucro, e o amor ao dinheiro cresce e aumenta; a ajuda, porém, ou a intercessão da igreja tão só correspondem à vontade e ao agrado de Deus.

29ª Tese
E quem sabe, se todas as almas do purgatório querem ser libertadas, quando há quem diga o que sucedeu com S. Severino e Pascoal.

30ª Tese
Ninguém tem certeza da suficiência do arrependimento e pesar verdadeiros, muito menos certeza pode ter de haver alcançado pleno perdão dos seus pecados.

31ª Tese
Tão raro como existe alguém que possui arrependimento e pesar verdadeiros, tão raro também é aquele que verdadeiramente alcança indulgência, sendo bem poucos os que se encontram.

32ª Tese
Irão para o diabo, juntamente com os seus mestres, aqueles que julgam obter certeza de sua salvação mediante breves de indulgência.

33ª Tese
Há que acautelar-se muito e ter cuidado daqueles que dizem: A indulgência do papa é a mais sublime e mais preciosa graça ou dádiva de Deus, pela qual o homem é reconciliado com Deus.

34ª Tese
Tanto assim que a graça da indulgência apenas se refere à pena satisfatória, estipulada por homens.

35ª Tese
Ensinam de maneira ímpia quantos alegam que aqueles que querem livrar almas do purgatório ou adquirir breves de confissão não necessitam de arrependimento e pesar.

36ª Tese
Todo o cristão que se arrepende verdadeiramente dos seus pecados e sente pesar por ter pecado, tem pleno perdão da pena e da dívida, perdão esse que lhe pertence mesmo sem breve de indulgência.

37ª Tese
Todo e qualquer cristão verdadeiro, vivo ou morto, é participante de todos os bens de Cristo e da Igreja, por dádiva de Deus, mesmo sem breve de indulgência.

38ª Tese
Entretanto se não devem desprezar o perdão e a distribuição deste pelo papa. Pois, conforme declarei, o seu perdão consiste numa declaração do perdão divino.

39ª Tese
Ë extremamente difícil, mesmo para os mais doutos teólogos, exaltar diante do povo ao mesmo tempo a grande riqueza da indulgência e, ao contrário, o verdadeiro arrependimento e pesar.

40ª Tese
O verdadeiro arrependimento e pesar buscam e amam o castigo; mas a profusão da indulgência livra das penas e faz com que se as aborreça, pelo menos quando há oportunidade para tanto.

41ª Tese
É necessário pregar cautelosamente sobre a indulgência papal, para que o homem singelo não julgue erradamente ser a indulgência preferível às demais obras de caridade ou melhor do que elas.

42ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos, não ser pensamento e opinião do papa que a aquisição de indulgências de alguma maneira possa ser comparada com qualquer obra de caridade.

43ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos, proceder melhor quem dá aos pobres ou empresta ao necessitado do que os que compram indulgência.

44ª Tese
É que pela obra de caridade cresce o amor ao próximo e o homem torna-se mais piedoso; pelas indulgências, porém, não se torna melhor senão mais seguro e livre da pena.

45ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que aquele que vê seu próximo padecer necessidade e a despeito disto gasta dinheiro com indulgências, não adquire indulgência do papa, mas desafia a ira de Deus.

46ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que, se não tiverem fartura, fiquem com o necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.

47ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos ser a compra de indulgência livre e não ordenada.

48ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que se o papa precisa conceder mais indulgências, mais necessita de uma oração fervorosa do que de dinheiro.

49ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos serem muito boas as indulgências do papa enquanto o homem não confiar nelas; mas muito prejudiciais quando, em conseqüência delas, se perde o temor de Deus.

50ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que se o papa tivesse conhecimento da traficância dos apregoadores de indulgência, preferiria ver a basílica de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.

51ª Tese
Deve-se ensinar aos cristãos que o papa, por um dever seu, preferiria distribuir o seu dinheiro aos que em geral são despojados do dinheiro pelos apregoadores de indulgência, vendendo, se necessário, a própria basílica de São Pedro.

52ª Tese
Esperar ser salvo mediante breves de indulgência é vaidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências e o próprio papa oferecessem sua alma como garantia.

53ª Tese
São inimigos de Cristo e do papa quantos por causa da prédica de indulgências proíbem a palavra de Deus nas demais igrejas.

54ª Tese
Comete-se injustiça contra a palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da palavra do Senhor.

55ª Tese
A intenção do papa não pode ser outra do que celebrar a indulgência, que é a coisa menor, com um toque de sino, uma pompa, uma cerimônia, enquanto o evangelho, que é o essencial, importa ser anunciado mediante cem toques de sino, centenas de pompas e solenidades.

56ª Tese
Os tesouros da igreja, dos quais o papa tira e distribui as indulgências, não são bastante mencionados e nem suficientemente conhecidos na Igreja de Cristo.

57ª Tese
É evidente que não são bens temporais, porquanto muitos pregadores não os distribuem com facilidade, antes os ajuntam.

58ª Tese
Também não são os merecimentos de Cristo e dos santos, porquanto este sempre são suficientes, e, independente do papa, operam graça do homem interior e são a cruz, a morte e o inferno do homem exterior.

59ª Tese
São Lourenço chama aos pobres, os quais são membros da Igreja, tesouros da Igreja, mas no sentido em que a palavra era usada na sua época.

60ª Tese
Afirmamos com boa razão, sem temeridade ou leviandade, que estes tesouros são as chaves da Igreja, que lhe foram dadas pelo merecimento de Cristo.

61ª Tese
Evidente é que, para o perdão das penas e para a absolvição em determinados casos, o poder do papa por si só basta.

62ª Tese
O verdadeiro tesouro da Igreja é o santíssimo evangelho da glória e da graça de Deus.

63ª Tese
Este tesouro, porém, é muito desprezado e odiado, porquanto faz com que os primeiros sejam os últimos.

64ª Tese
Enquanto isso o tesouro das indulgências é notoriamente o mais apreciado, porque faz com que os últimos sejam os primeiros.

65ª Tese
Por essa razão os tesouros evangélicos foram outrora as redes com que se apanhavam os ricos e abastados.

66ª Tese
Os tesouros das indulgências, porém, são as redes com que hoje se apanham as riquezas dos homens.

67ª Tese
As indulgências, apregoadas pelos seus vendedores como a mais sublime graça, decerto assim são consideradas porque lhes trazem grandes proventos.

68ª Tese
Nem por isso semelhante indulgência é a mais ínfima graça, comparada com a graça de Deus e a piedade da cruz.

69ª Tese
Os bispos e os sacerdotes são obrigados a receber os comissários das indulgências apostólicas com toda reverência.

70ª Tese
Entretanto tem muito maior dever de conservar abertos os olhos e ouvidos, para que estes comissários, em vez de cumprirem as ordens recebidas do papa, não apregoem os seus próprios sonhos.

71ª Tese
Quem levanta a sua voz contra a verdade das indulgências papais é excomungado e maldito.

72ª Tese
Aquele, porém, que se insurgir contra as palavras insolentes e arrogantes dos apregoadores de indulgências, seja abençoado.

73ª Tese
Da mesma maneira em que o papa usa de justiça ao fulminar com a excomunhão aos que em prejuízo do comércio de indulgências procedem astuciosamente.

74ª Tese
Muito mais deseja atingir com o desfavor e a excomunhão àqueles que, sob pretexto de indulgências, prejudicam a santa caridade e a verdade pela sua maneira de agirem.

75ª Tese
Considerar a indulgência do papa tão poderosa, a ponto de absolver alguém dos pecados, mesmo que (coisa impossível de se expressar) tivesse deflorado a mãe de Deus, significa ser demente.

76ª Tese
Bem ao contrário afirmamos que a indulgência do papa nem mesmo pode anular o menor pecado venial no que diz respeito a culpa que representa.

77ª Tese
Afirmar que nem mesmo São Pedro, se no momento fosse papa, poderia dispensar maior indulgência, constitui insulto contra São Pedro e o papa.

78ª Tese
Dizemos, ao contrário, que o atual papa, e todos os que o sucederam, é detentor de muito maior indulgência, isto é, o evangelho, dom de curar, etc., de acordo com o que diz 1 Corinto 12.6-9.

79ª Tese
Alegar ter a cruz de indulgências, erguida e adornada com as armas do papa, tanto valor como a própria cruz de Cristo é blasfêmia.

80ª Tese
Os bispos, padres e teólogos que consentem em semelhante linguagem diante do povo, terão de prestar contas desta atitude.

81ª Tese
Semelhante pregação, a enaltecer atrevida e insolentemente a indulgência, torna difícil até homens doutos defenderem a honra e dignidade do papa contra a calúnia e as perguntas mordazes e astutas dos leigos.

82ª Tese
Haja vista exemplo como este: Por que o papa não livra duma só vez todas as almas do purgatório, movido pela santíssima caridade e considerando a mais premente necessidade das mesmas, havendo santa razão para tanto, quando, em troca de vil dinheiro para a construção da basílica de São Pedro, livra inúmeras delas, logo por motivo bastante infundado?

83ª Tese
Outrossim: Por que continuam as exéquias e missas de ano em sufrágio das almas dos defuntos e não se devolve o dinheiro recebido para esse fim ou não se permite os doadores busquem de novo os benefícios ou prebendas oferecidos em favor dos mortos, quando já não é justo continuar a rezar pelos que se acham remidos?

84ª Tese
E: Que nova santidade de Deus e do papa é esta a consentir a um ímpio e inimigo resgate uma alma piedosa e agradável a Deus por amor ao dinheiro e não livrar esta mesma alma piedosa e amada por Deus do seu tormento por amor espontâneo e sem paga?

85ª Tese
E: Por que os cânones de penitência, isto é, os preceitos de penitência, que faz muito caducaram e morreram de fato pelo desuso, tornam a remir mediante dinheiro, pela concessão de indulgência, como se continuassem em vigor e bem vivos?

86ª Tese
E: Por que o papa, cuja fortuna é maior do que a de qualquer Creso, não prefere construir a basílica de São Pedro de seu próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de cristãos pobres?

87ª Tese
E: Que perdoa ou concede o papa pela sua indulgência àqueles que pelo arrependimento completo tem direito ao perdão ou indulgência plenária?

88ª Tese
Afinal: Que benefício maior poderia receber a igreja se o papa, que atualmente o faz uma vez ao dia cem vezes ao dia concedesse aos fiéis este perdão a título gratuito?

89ª Tese
Visto o papa visar mais a salvação das almas mediante a indulgência do que o dinheiro, por que razão revoga os breves de indulgência outrora por ele concedidos, quando tem sempre as mesmas virtudes?

90ª Tese
Desfazer estes argumentos muito sutis dos leigos, recorrendo apenas à força e não por razões sólidas apresentadas, significa expor a igreja e o papa ao escárnio dos inimigos e desgraçar os cristãos.

91ª Tese
Se, portanto, a indulgência fosse apregoada no espírito e sentido do papa, estas objeções poderiam ser facilmente respondidas e nem mesmo teriam surgido.

92ª Tese
Fora, pois, com todos este pregadores que dizem à igreja de Cristo: Paz! Paz! Sem que haja paz!

93ª Tese
Abençoados, porém, sejam todos os pregadores que dizem à igreja de Cristo: Cruz! Cruz! Sem que haja cruz!

94ª Tese
Admoeste-se os cristãos a que se empenhem em seguir seu Cabeça, Cristo, através da cruz, da morte e do inferno;

95ª Tese
E desta maneira mais esperem entrar no reino dos céus por muitas aflições do que confiando em promessas de paz infundadas.

domingo, 8 de maio de 2011

Martinho Lutero, 1483-1546 d.C. (Biografia III)

Por Pedro Paulo Valente

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 13)

Lutero em 1529 por Lucas Cranach

“Eu estou atado as Escrituras”

TEXTO BASE: Romanos 3:21-31

OS PRIMEIROS ANOS
Martinho Lutero (em alemão: Martin Luther) nasceu no dia 10 de novembro de 1483 em Eisleben, Alemanha. A posição e condição de seus pais eram originalmente humildes, e a profissão de seu pai era trabalhar nas minas; porém, é provável que por seu esforço e trabalho ajuntara uma fortuna para a sua família. Lutero foi prontamente iniciado nos estudos, e aos treze anos de idade foi enviado a uma escola de Magdeburgo, e dali a Eisenach, na Turíngia, onde permaneceu por quatro anos e recebeu o ensino superior de Latin, condição essencial para a sua entrada na universidade.

Em 1501, foi enviado à Universidade de Erfurt, onde passou pelos costumeiros cursos de lógica e filosofia. Aos vinte anos de idade, recebeu o título de licenciado, e passou logo a ensinar a filosofia de Aristóteles, ética e outros assuntos ligados à filosofia. Posteriormente, por indicação de seus pais, dedicou-se à lei civil, a fim de trabalhar como advogado; porém, foi separado desta atividade devido ao incidente relatado a seguir.

VOCAÇÃO MONÁSTICA
Ao andar certo dia pelos campos, foi lançado ao solo por um raio, e ficou tão apavorado que prometeu a Santa Ana tornar-se monge caso fosse poupado. Este fato afetou-o de tal modo que se retirou do mundo e enclausurou-se junto à ordem dos eremitas de Santo Agostinho.

Dedicou-se ali à leitura das obras de Santo Agostinho e dos escolásticos; porém, ao vasculhar a biblioteca, encontrou, acidentalmente, uma cópia da Bíblia latina que jamais havia visto antes. Esta atraiu poderosamente a sua curiosidade; leu-a ansiosamente e sentiu-se atônito ao perceber que apenas uma pequena porção das Escrituras era ensinada ao povo.

Fez a sua profissão de fé no mosteiro de Erfurt, após ter sido noviço durante um ano; e tomou ordens sacerdotais, ao celebrar a sua primeira missa em 1507. Um ano mais tarde lecionou teologia por um semestre na nova universidade de Wittenberg. Assim prosseguiu os seus estudos em Erfurt pelo período de quatro anos no mosteiro dos agostinianos, principalmente teológicos.

O PAVOR DO PECADO
Em Erfurt havia certo ancião no convento dos agostinianos, com quem Lutero, que pertencia à mesma ordem, como frade agostiniano, conversou sobre vários assuntos, especialmente a remissão dos pecados. Sobre este tema, este sábio padre foi franco com Lutero, ao dizer-lhe que o expresso mandamento de Deus é que cada homem creia particularmente que os seus pecados foram perdoados em Cristo; disse-lhe ainda que esta interpretação particular fora confirmada por São Bernardo: “Este é o testemunho que o Espírito Santo te dá em teu coração, quando diz: Os teus pecados te são perdoados. Porque este é o ensino do apóstolo, que o homem é livremente justificado pela fé”.

Estas palavras não serviram somente para fortalecer Lutero, mas também para ensinar-lhe o pleno sentido do ensino do apóstolo Paulo, que insiste tantas vezes na seguinte frase: “Somos justificados pela fé”. E, após ler as exposições de muitos sobre esta passagem, logo percebeu, tanto pelo discurso do ancião como pelo conselho que recebeu em seu espírito, o quão vãs eram as interpretações que antes havia lido nos trabalhos dos escolásticos. E assim, pouco a pouco, ao ler e comparar os ditos e os exemplos dos profetas e dos apóstolos, com uma contínua invocação a Deus, e com a excitação da fé pelo poder da oração, deu-se conta desta doutrina com a maior evidência.

DECEPICIONANTE VISITA A ROMA
Entre 1510-11, sete mosteiros de sua ordem tiveram uma divergência com o seu vigário geral. Lutero foi escolhido para ir a Roma e defender a sua causa. Lá ele viu um pouco da corrupção e luxúria da Igreja Romana e começou a compreender a necessidade de uma reforma. Passou muito tempo visitando igrejas e vendo as numerosas relíquias que estavam em Roma. Ficou chocado com a leviandade dos sacerdotes italianos, capazes de rezar várias missas enquanto ele rezava uma.

LUTERO E A BÍBLIA
Em 1511, Lutero foi transferido para Wittenberg. Durante o ano seguinte, tornou-se professor de Bíblia e recebeu o título de doutor em teologia. Lutero, então, passou a ensinar os livros da Bíblia no latin e, para fazê-lo melhor, começou a estudar as línguas originais da Bíblia (Grego e Hebraico). Aos poucos desenvolveu a idéia de que somente na Bíblia se podia encontrar a verdadeira autoridade. De 1513 a 1515, deu aulas sobre Salmos; de 1515 a 1517, sobre Romanos e depois, Gálatas e Hebreus.

A leitura do versículo 1:17 de Romanos convenceu-o de que somente pela fé em Cristo era possível alguém tornar-se justo diante de Deus. O estudo da Bíblia o levara a crer em Cristo somente para a sua salvação.

AS INDULGÊNCIAS E AS 95 TESES
Leão X, que sucedeu a Júlio II em março de 1513, teve o desígnio de reconstruir a magnífica Catedral de São Pedro em Roma, cujas obras haviam sido iniciadas por Júlio, mas que ainda precisava de muito dinheiro para ser concluída. Por esta razão, Leão X, em 1517, aprovou a concessão de indulgências gerais a toda Europa, em favor de todos os que contribuíssem com qualquer soma de dinheiro para a reedificação da catedral; e designou pessoas em diferentes países para proclamarem estas indulgências e receberem o dinheiro das mesmas. Estes estranhos procedimentos provocaram muito escândalo em Wittenberg e, de modo particular, inflamaram o zelo de Lutero. Neste caso, por ser incapaz de conter-se, estava decidido a declarar-se contrário a tais indulgências em todas as circunstâncias.


Por esta razão, na véspera do dia de todos os santos, em 31 de outubro de 1517, fixou publicamente, na igreja adjacente ao castelo naquela cidade, as noventa e cinco teses contra as indulgências, onde desafiava a qualquer que se opusesse a elas, fosse por escrito ou por debate oral.
Em pouco tempo toda a Alemanha tomou conhecimento do conteúdo dessas teses e elas espalharam-se também pelo resto da Europa. Embora tivesse sido pressionado de muitas formas - excomungado e cassado - para abandonar suas idéias e os seus escritos, Lutero manteve suas convicções. Suas idéias atingiram rapidamente o povo e essa divulgação foi facilitada pelo recém inventado sistema de impressão de textos em série.

A RESPOSTA DO PAPADO
Após 2 anos de embate entre Lutero e representantes do papa, em 15 de junho de 1520, Leão X advertiu Lutero, com a bula "Exsurge Domine", onde o ameaçava com a excomunhão, a menos que, num prazo de sessenta dias, repudiasse 41 pontos de sua doutrina, destacados pela Igreja.

Em outubro de 1520, Lutero enviou seu escrito "A Liberdade de um Cristão" ao Papa, acrescentando a frase significativa:
"Eu não me submeto a leis ao interpretar a palavra de Deus".

MATRIMÔNIO E FAMÍLIA
Em abril de 1523, Lutero ajudou 12 freiras a escaparem do cativeiro no Convento de Nimbschen. Entre essas freiras encontrava-se Catarina von Bora, filha de nobre família, com quem veio a se casar, em 13 de junho de 1525. Dessa união nasceram seis filhos: Johannes, Elisabeth, Magdalena, Martin, Paul e Margaretha. Dos seis filhos, Margaretha foi a única que manteve a linhagem até os dias de hoje. Um descendente ilustre da família Lutero é o ex-presidente alemão Paul von Hindenburg.

O casamento de Lutero com a ex-freira cisterciense incentivou o casamento de outros padres e freiras que haviam adotado a Reforma. Foi um rompimento definitivo com a Igreja Romana.

LEGADO DE LUTERO
Lutero morreu no dia 18 de fevereiro de 1546, com sessenta e três anos de idade. A herança de Lutero permanece até hoje na Igreja Protestante, como o pai de um movimento que procurava uma reforma na Igreja através das Escrituras como fonte exclusiva de autoridade para a fé cristã, proclamando a salvação pela fé genuína e pessoal em Jesus Cristo, o único mediador entre Deus e o homem.

Lutero foi o autor de uma das primeiras traduções da Bíblia para alemão, algo que não era permitido sem especial autorização eclesiástica. Com isso os alemães passaram a ter acesso as Escrituras no seu próprio idioma e um forte incentivo pela sua leitura e redescoberta dos ensinos da Palavra de Deus.

APLICAÇÃO
A vida de Lutero se assemelha muito a vida do rei Josias (2 Crônicas 34 e 35), um jovem que começou a reinar aos 8 anos e fez o que era reto perante o Senhor. Através de diversas reformas políticas e religiosas pôs fim a corrupção dos sacerdotes e da idolatria de Israel, reencontrando as Sagradas Escrituras e voltando-se para os seus ensinos. Tanto Josias quanto Lutero foram líderes de um avivamento espiritual na sua geração.

  • Qual o valor das Escrituras na reforma religiosa promovido por Josias e Lutero? Comente sobre o zelo que ambos tinham para com a Bíblia.
  • Por que Lutero valorizou tanto a Bíblia?
  • Como Lutero encontrou absolvição para os seus pecados?
  • Quais as divergências de Lutero com a Igreja Católica?
  • Qual a repercussão e as conseqüências dos ensinos e da reforma promovida e liderada por Lutero?
  • O que a vida de Lutero pode lhe inspirar no cotidiano?

MEMORIZAR VERSÍCULO
Não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê: primeiro do judeu, depois do grego. Porque no evangelho é revelada a justiça de Deus, uma justiça que do princípio ao fim é pela fé, como está escrito: "O justo viverá pela fé". Romanos 1:16-17
FILME LUTERO
O filme Lutero conta a história de Martinho Lutero, um padre alemão que inconformado com a decadência espiritual e moral da Igreja Católica, começa a questionar a igreja, a autoridade do Papa e o poder de Roma.

Com uma ótima produção, o filme é bastante envolvente. Mostra o lado absolutamente negro que a Igreja Católica estava envolvida e os motivos que levaram Lutero a escrever as 95 teses que iniciou a Reforma Protestante.



MATERIAL UTILIZADO
• Foxe, John. História da Vida e Perseguições de Martinho Lutero. Livro dos Mártires, 2003. Editora Mundo Cristão.
• César, Elben L. Conversas com Lutero. História e Pensamento, Viçosa/MG 2006. Editora Ultimato.
• Cairns, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo 2008. Editora Vida Nova.
• McGrath, Alister E. Sistemática, Histórica e Filosófica. Uma Introdução a Teologia Cristã, São Paulo 2005. Shedd Publicações.
• Williams, Terri. Cronologia da História Eclesiástica, São Paulo 1993. Edições Vida Nova.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Vídeo da história da religião

Como a geografia da religião evoluiu ao longo dos séculos, e onde tem acontecido guerras? O nosso mapa nos dá uma breve história das religiões mais conhecidas do mundo: Cristianismo, Islamismo, Hinduísmo, Budismo e Judaísmo. Quer ver 5.000 anos de religião em 90 segundos?



Criado por Maps of War

domingo, 1 de maio de 2011

Igreja no início da Idade Média (História da Igreja 3)

Por Pedro Paulo Valente

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 12)



INTRODUÇÃO
O ano de 590 constituiu um divisor de águas entre o período antigo da história da Igreja e o período medieval, como o início de uma nova era de poder para a Igreja no Ocidente, inaugurada pelo papado de Gregório I. Um momento no qual a Igreja, liderada pelo bispo de Roma deteve o poder político do Império.

GREGÓRIO, O GRANDE
Nascido de uma família tradicional, nobre e rica de Roma, Gregório (540-604) recebeu uma formação jurídica que o prepararia para a vida pública. Em 573 tornou-se prefeito de Roma, porém logo depois abriu mão da herança que herdara e tornou-se monge, renunciado seu cargo político.

No ano de 590, Gregório foi escolhido bispo de Roma. Sua maior obra foi aumentar a influência política do bispo de Roma, e embora não reivindicasse para si o título de papa, exerceu todos os poderes e privilégios dos papas posteriores, tornando-se o primeiro papa universal.

Gregório foi o organizador do canto gregoriano, contribuindo para a forma da liturgia na Igreja Medieval. Ele também teve uma proeminência no campo da teologia, sendo considerado um dos grandes doutores da Igreja Ocidental. Ele sistematizou a doutrina e fez da Igreja uma potência na área da política.

Vejamos algumas das idéias de Gregório que influenciaram a teologia medieval:

• O homem é um pecador por nascimento e escolha, herdando de Adão o pecado como uma doença a que todos estão sujeitos.
• A vontade do homem é livre, porém a sua bondade foi perdida.
• A predestinação limitada aos eleitos.
• A graça não é irresistível, está fundamentada na presciência de Deus e no mérito do homem.
• As almas são purificadas no purgatório, antes de entrarem nos céus.
• A Bíblia foi inspirada por Deus, porém a tradição tem a mesma autoridade que as Escrituras.
• A ceia é um sacrifício do corpo e do sangue de Cristo que se repete todas as vezes que é celebrada – doutrina da transubstanciação.
• A importância das boas novas e a invocação dos santos para alcançar o favor de Deus.

SURGIMENTO E IMPACTO DO ISLAMISMO
O Islamismo teve suas origens na península árabe, através de Maomé (570-632), um mercador que chegou a ter contato com o Cristianismo e o Judaísmo através de viagens à Síria e Palestina, as únicas religiões monoteístas até então.

Em 610, Maomé sentiu um chamado divino para proclamar o monoteísmo. Maomé não rejeitou completamente o judaísmo e o cristianismo, duas religiões monoteístas já conhecidas pelos árabes. Em vez disso, informou que tinha sido enviado por Deus para restaurar os ensinamentos originais destas religiões, que tinham sido corrompidos e esquecidos.

Ele afirmava ter recebido a visita do anjo Gabriel, que lhe ordenou que recitasse uns versos enviados por Deus, e comunicou que Deus o havia escolhido como o último profeta enviado à humanidade. Maomé deu ouvidos à mensagem do anjo e, após sua morte, estes versos foram reunidos e integrados no Alcorão, durante o califado de Abu Bakr.

Como figura política, ele unificou várias tribos árabes, o que permitiu as conquistas árabes daquilo que viria a ser um império islâmico que se estendeu da Pérsia até a Península Ibérica.

As porções oriental e ocidental da Igreja se enfraqueceram com as perdas pessoais e territoriais para o islamismo. A sólida Igreja do norte da África desapareceu, e a Terra Santa e o Egito foram perdidos. Os islamitas resistiram obstinadamente aos esforços do papado e dos cruzados de reconquistar a Terra Santa e, desde então, tem resistido duramente a qualquer tentativa de missionários cristãos de propagação do cristianismo entre os mulçumanos.

A religião islâmica
A principal fonte da religião mulçumana é o Alcorão, composto por 114 capítulos, dos quais o maior fica no começo; os capítulos vão diminuindo em extensão até o último que tem apenas três versículos. O livro é repetitivo e desorganizado.

A crença em um Deus, conhecido como Alá, é o tema central do islamismo. Ala fez conhecida a sua vontade através de 25 profetas, entre os quais se encontram personagens bíblicos como Abraão, Moisés e Cristo; Maomé é porém o último e o maior dos profetas. Os mulçumanos negam a divindade de Cristo quanto a sua morte na cruz. Fatalista, a religião propõe uma submissão passiva à vontade de Alá. Após o julgamento, os homens gozarão de um paraíso sensual ou enfrentarão o terror do inferno.

O bom mulçumano ora 5 vezes ao dia com o rosto voltado a Meca. Jejum e obras de caridade são importantes. Os mulçumanos santos são aqueles que, pelo menos uma vez na vida, fazem uma peregrinação a Meca.

ATIVIDADES MISSIONÁRIAS
Enquanto grande parte da energia da Igreja Oriental foi gasta na luta para evitar que os mulçumanos conquistassem Constantinopla, a Igreja no Ocidente empreendeu várias campanhas missionárias entre os séculos VI e IX para expandir o evangelho a tribos e povoados até então ignorantes a cerca das boas novas de Jesus Cristo.

As atividades missionárias se concentraram nas Ilhas Britânicas, Alemanha, Países Baixos, Itália, Espanha e a Grande Morávia (correspondente as atuais República Checa, Eslováquia e parte da Hungria). Essa impetuosa conquista que, às vezes, convertia e batizava em massa tribos e nações inteiras, suscitou o problema do batismo sem uma experiência pessoal de fé. Esse é, sem dúvida, um problema perene da obra missionária onde quer que a conversão de um líder influente tenha resultado na aceitação coletiva do cristianismo, independentemente se os convertidos tiveram ou não uma experiência genuína de salvação.

A ORIGEM DA IGREJA ORTODOXA GREGA
A Igreja no Oriente esteve sob a jurisdição do Imperador, mas o papa em Roma estava longe de ser submetido ao seu controle. Na ausência de controle político efetivo no Ocidente, com a queda do Império Romano Ocidental (em 476), o papa tornou-se o líder temporal e espiritual em tempos de crise. Os imperadores eram quase papas no Oriente, e no Ocidente os papas eram quase imperadores. Isso deu as duas igrejas uma perspectiva diferente em relação ao poder temporal.

Outro fator de divergência entre as Igrejas foi a formulação de uma teologia ortodoxa. A mente grega do Oriente se interessava mais pela solução de problemas teológicos em termos filosóficos. A maioria das controvérsias teológicas entre 325 e 451 surgiu no Oriente, o que acirrava as disputas entre os bispos do Ocidente e Oriente.

A questão das imagens e esculturas nos templos foi outro fator de disputa entre as igrejas. Acusados pelos mulçumanos de idolatria, o imperador do Oriente, Leão III, em 739 ordenou que tudo, exceto a Bíblia, fosse removido das igrejas. Enquanto a igreja no Ocidente continuou a usar imagens e esculturas no culto, o que aumentou o antagonismo entre os dois grupos.

A interferência do papa na nomeação de patriarcas da Igreja no Oriente era mais um motivo que intensificava as más relações entre as duas igrejas.

E em 1054, todas essas diferenças e antagonismos se centralizaram em torno daquilo que parecia ser um problema menor. O patriarca de Constantinopla (Miguel Cerulário, 1043-1059) condenou a Igreja do Ocidente pelo uso de pão não-levedado na eucaristia. Por mais que o papa tentasse reconciliar os dois lados, as discussões não cessavam e a polêmica aumentava. No dia 16 de julho de 1054, o cardeal romano que representava o papa em Constantinopla colocou no altar superior da catedral de Santa Sofia um decreto de excomunhão do patriarca e seus seguidores. O patriarca não tardou em responder e anatematizou o papa de Roma e seus seguidores. Foi esse o primeiro grande cisma no cristianismo a romper com a unidade da Igreja.

Qualquer movimento ecumênico se tornou muito difícil depois dos amargos acontecimentos que separaram a Igreja do Ocidente e a Igreja do Oriente. As mútuas excomunhões só foram levantadas em 7 de Dezembro de 1965, pelo Papa Paulo VI e o Patriarca Atenágoras I, a fim de aproximar as duas Igrejas, afastadas havia séculos. As excomunhões, entretanto, foram retiradas pelas duas Igrejas em 1966. Somente recentemente o diálogo entre elas foi efetivamente retomado, a fim de tentar sanar o cisma.


APLICAÇÃO
O período da Igreja na Idade Média foi um momento de grande expansão do cristianismo, mas ao mesmo tempo de bastante confusão sobre a missão da Igreja.

A grande tentação neste período da história foi o poder e a riqueza que rondaram de perto e acabaram por se concentrar na Igreja institucionalizada, o que interferiu muito na sua pureza, teologia e missão.

QUESTÕES
Observando a história do cristianismo, você acredita que ele contribui positivamente para transformar uma sociedade?
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Quais as conseqüências do papado para o cristianismo?
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Qual o problema da adesão ao cristianismo sem uma experiência de fé pessoal e genuína, a qual denominamos ‘conversão’?
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Quais os perigos que você enxerga na associação da Igreja com o Estado?
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Quais os motivos do primeiro cisma da Igreja? E qual as conseqüências dessa divisão da Igreja?
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Por que Maomé criou uma religião ao invés de aderir a uma das religiões monoteístas já existentes?
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MATERIAL UTILIZADO
• Cairns, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo 2008. Editora Vida Nova.
• McGrath, Alister E. Sistemática, Histórica e Filosófica. Uma Introdução a Teologia Cristã, São Paulo 2005. Shedd Publicações.
• Williams, Terri. Cronologia da História Eclesiástica, São Paulo 1993. Edições Vida Nova.