domingo, 19 de junho de 2011

Decadência e tentativas de renovação na Igreja Ocidental (História da Igreja V)

Por Pedro Paulo Valente

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 17)


TEXTO BASE: Jeremias 29:11-14a

INTRODUÇÃO
Os dois séculos que antecederam a Reforma Protestante foram marcados por um período de declínio do poder papal e uma constante insatisfação com a moralidade dos clérigos, somado a isso o crescente distanciamento das Escrituras. Nesta aula veremos os eventos antecederam as profundas reformas religiosas no Cristianismo do século XVI, um verdadeiro renovo na fé da Igreja Ocidental.

TENTATIVAS DE REFORMA INTERNA
Durante os anos de 1305 e 1517 d.C., vários movimentos surgiram na tentativa de reformar a Igreja Ocidental. Destaca-se a volta do misticismo, os pré-reformadores e os concílios realizados na expectativa de uma renovação moral dentro da Igreja Romana.

Os místicos
A volta do misticismo em momentos que a Igreja descamba para o formalismo testemunha o desejo do coração humano de entrar em contato direto com Deus no ato do culto, em vez de participar passivamente de atos de culto friamente formal celebrados pelo sacerdote. O místico deseja um contato direto com Deus pela intuição imediata ou pela contemplação.

O escolasticismo contribuiu para o surgimento do misticismo porque ressaltava a razão em detrimento da natureza emocional do homem, sendo uma reação contra essa tendência racionalista. O movimento buscava o desenvolvimento de uma espiritualidade pessoal, menos litúrgica, uma adoração comunitária participativa e que incluísse os leigos.

Os perigos da substituição da Bíblia pela autoridade interior subjetiva e da minimização da doutrina foram alguns dos desvios desses movimentos.

Os precursores da reforma
Os místicos tentaram tornar pessoal a religião, mas os reformadores bíblicos e nacionalistas, como Wycliffe, Huss e Savonarola, empenharam-se mais numa tentativa de retorno ao ideal de Igreja representado no Novo Testamento.

João Wycliffe (1328-1384) estudou e ensinou em Oxford a maior parte de sua vida. Até 1378, queria reformar a Igreja Romana através da eliminação dos clérigos imorais e pelo despojamento de suas propriedades que, segundo ele, era a fonte da corrupção. A partir de 1979, ele começou a opor-se aos dogmas da Igreja Romana com idéias revolucionárias – atacou a autoridade do papa (era Cristo e não o papa o chefe da Igreja), afirmou que a Bíblia e não a Igreja era a autoridade única para o crente, e que a Igreja Romana deveria se amoldar ao padrão da Igreja do Novo Testamento. Para apoiar essas idéias, Wycliffe tornou a Bíblia acessível ao povo em sua própria língua (em 1382 ele terminou a primeira tradução completa do Novo Testamento para o inglês, e Nicolau de Hereford terminou a tradução do Antigo Testamento em 1384), o que possibilitou os ingleses lerem a Bíblia toda em sua própria língua.

Outra medida de Wycliffe foi contestar o dogma da transubstanciação. Ele defendia que Cristo estava espiritualmente presente na eucaristia e isto era percebido pela fé. Se adotada, a idéia de Wycliffe significaria que o sacerdote não mais reteria a salvação de alguém por ter em suas mãos o corpo e o sangue de Cristo na Santa Ceia.

As idéias de Wycliffe foram condenadas em 1382 e em 1401 todos os pregadores adeptos as idéias de Wycliffe (os lolardos) receberiam a pena de morte como castigo quando perseverassem nesses ensinos contrários a Igreja Romana.

 
João Huss (1373-1415), originário da Boêmia, foi pastor da Capela de Belém de 1402 a 1414, e adepto das idéias de Wycliffe. Suas pregações e ensinos reformistas coincidiram com o sentimento nacionalista boêmio contra o controle da Boêmia pelo Sacro Império Romano. Convocado para comparecer no Concílio de Constança, as idéias de Huss foram condenadas, e como ele se recusou a se retratar, foi queimado na fogueira por ordem do Concílio em 6 de julho de 1415.

Os concílios reformadores
Os líderes dos concílios do século XV procuraram fazer a reforma pela criação de uma liderança eclesiástica que representasse os leigos, numa tentativa de eliminar os líderes eclesiásticos corruptos. Os concílios não acentuaram o valor da Bíblia como defendiam Huss e Wycliffe, pelo contrário, suas idéias foram condenadas e João Huss condenado à morte.

Frente aos insucessos dos 3 concílios (Pisa – 1409, Constança – 1414-1418 e Florença-1449) em reformar a Igreja Romana, a reforma protestante tornara-se inevitável.

PRESSÕES EXTERNAS
Apesar de ser um movimento religioso mais do que qualquer outra coisa, o seu contexto a marcou profundamente.

Renascença
A Renascença, que teve lugar em importantes países da Europa entre 1350 e 1650, marca a transição da era medieval para o mundo moderno. Esse período pode ser definido como aquele de reorientação cultural em que os homens trocaram a compreensão corporativa, religiosa e medieval da vida por uma visão individualista, secular e moderna. A concepção teocêntrica medieval do mundo, em que Deus era a medida de todas as coisas, foi substituída por uma interpretação antropocêntrica da vida, em que o homem se tornara a medida de todas as coisas. As classes médias se tornaram mais importantes do que a velha sociedade agrária rural do período feudal. O comércio passou a ter mais importância do que a agricultura como meio de subsistência. Adotou-se uma forma humanista, otimista e experimental de ver as coisas desta vida.

Surgimento das nações estado e da classe média
Novas cidades e a crescente influência dos comerciantes (burguesia) e o desassossego dos camponeses prenunciavam o fim do feudalismo. Contribuiu para esse processo também o nacionalismo, com o enfraquecimento da nobreza e a centralização da autoridade nas mãos dos reis. Assim, nasceram fortes estados nacionais (como por exemplo, Inglaterra, França e Espanha) que resistiam às pretensões absolutistas do Papa.

Invenção da imprensa
A invenção do tipo mecânico móvel para impressão, por João Gutenberg (1398-1468), começou a revolução da imprensa e é amplamente considerado o evento mais importante do período moderno. Teve um papel fundamental no desenvolvimento da renascença, reforma e na revolução científica e lançou as bases materiais para a moderna economia baseada no conhecimento e a disseminação da aprendizagem em massa.





APLICAÇÃO
Jeremias se destacou entre os profetas hebreus por causa da dimensão em que revelou seus sentimentos pessoais, um coração turbulento e angustiado devido a dureza de coração da sua geração.

O livro de Jeremias se destaca pelo choro de um profeta que percebe uma nação obstinada pelo mal e distante de Deus, que não se arrepende e não ouve a sua pregação. Diante a iminente e certa destruição de Judá, o profeta se apega as promessas de restauração do Senhor, a Sua fidelidade e lembra que Deus é o Senhor da história.

Jeremias nos lembra desse ministério profético que nós cristãos temos, o ministério de denunciar o mal e não se conformar a ele, ainda que muitos tenham se contaminado e até mesmo a igreja tenha o seu discurso comprometido pela corrupção. Somos convocados para seguir a Cristo e servi-Lo, independentemente das circunstâncias que nos cercam. Da mesma forma, a vida de João Wycliffe e João Huss nos traz a memória essa firmeza e compromisso com a Palavra de Deus, ainda que tenham vivido dias difíceis.

QUESTÕES
Quais os problemas que a Igreja Romana enfrentava?
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Como os místicos queriam reformar a Igreja?
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Qual o perigo de uma reforma sem as Escrituras?
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Por que você acha que Wycliffe e Huss estavam tão seguros das suas idéias?
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Como a Igreja deve enfrentar as mudanças que acontecem no mundo?
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MATERIAL UTILIZADO
• Cairns, Earle E. O Cristianismo Através dos Séculos, São Paulo 2008. Editora Vida Nova.
• Williams, Terri. Cronologia da História Eclesiástica, São Paulo 1993. Edições Vida Nova.

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