domingo, 27 de novembro de 2011

O EVANGELHO SOB JULGAMENTO

A História do Cristianismo Através dos Séculos (aula 37)


TEXTO BASE: Atos 24-26

Foi um momento dramático quando o piedoso e humilde apóstolo de Jesus Cristo se colocou diante do representante dessa mundana e moralmente corrupta família dos Herodes que, geração após geração, se colocava contra a verdade e a justiça. O fundador, Herodes o Grande, havia tentado eliminar o menino Jesus. Seu filho Antipas, tetrarca da Galiléia, decapitou João Batista e mereceu do Senhor o título de “raposa”. Seu neto Agripa I matou Tiago, filho de Zebedeu. Agora, vemos Paulo diante do filho de Agripa. Mas Paulo não estava nem um pouco intimidado.

Jesus havia prevenido seus discípulos que seriam levados diante de reis e de governadores por causa de seu nome e que em tais ocasiões lhes daria palavras de sabedoria (Lc 21:12-15). Jesus também havia dito a Ananias (que deve ter transmitido essa informação) que Paulo era o seu instrumento para levar seu nome aos gentios e seus reis e diante do povo de Israel (9:15). Essas predições se cumpriram!
“E é necessário que antes o evangelho seja pregado a todas as nações”. Marcos 13:10

A aula foi extraída do guia de estudos bíblicos: O Espírito em ação – John Stott

domingo, 20 de novembro de 2011

LAUSANNE E AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DA IGREJA NO MUNDO



TEXTO BASE: Colossenses1:9-23

INTRODUÇÃO
Uma discussão bastante comum na Igreja contemporânea é sobre a relação da proclamação do evangelho e a promoção da justiça na evangelização e missão da Igreja. Qual é o mais importante? O que vem antes?

            O movimento de Lausanne nos ajudou muito nesta temática, lembrando-nos da missão inacabada de proclamar o evangelho a toda criatura e ao mesmo tempo não se esquecer de que o evangelho deve promover mudanças profundas na nossa sociedade combatendo o mal, um tema muito comum nos ensinos de Jesus e dos apóstolos.

MOVIMENTO LAUSANNE
A história de Lausanne começa com o evangelista Dr. Billy Graham. Como ele começou a pregar internacionalmente, ele desenvolveu uma paixão para "unir todos os evangélicos na tarefa comum de evangelização total do mundo".
John Stott e Billy Graham

Em 1966, a Associação Evangelística Billy Graham, em parceria com a revista americana “Christianity Today” (Cristianismo Hoje), patrocinou o Congresso Mundial de Evangelismo em Berlim. Este encontro atraiu 1.200 delegados de mais de 100 países, e inspirou outras conferências em Cingapura (1968), Minneapolis e Bogotá (1969) e Austrália (1971). Pouco depois, Billy Graham percebeu a necessidade de um congresso maior e mais abrangente para discutir a missão cristã em um mundo de muita agitação social, política, econômica e religiosa. A Igreja, ele acreditava, devria aplicar o evangelho ao mundo contemporâneo, e trabalhar para compreender as ideias e os valores por trás das mudanças rápidas na sociedade. Ele compartilhou seu pensamento com 100 líderes cristãos, provenientes de todos os continentes, e juntos organizaram o primeiro congresso de Lausanne.

Em julho de 1974, cerca de 2.700 participantes e convidados de mais de 150 nações se reuniram em Lausanne, na Suíça, durante dez dias de discussão, adoração, comunhão e oração. Dada a variedade de nacionalidades, etnias, idades, ocupações e igreja afiliadas, a revista “TIME” descreveu como "um fórum formidável, possivelmente a reunião mundial mais representativa e abrangente dos cristãos já realizada".

O congresso contou com a participação de alguns dos pensadores cristãos mais respeitado do mundo na época, incluindo Samuel Escobar, Francis Schaeffer, Henry Carl e John Stott. Numa das assembleias, o missionário presbiteriano Ralph Winter introduziu o termo "povos não alcançados", lembrando que milhares de grupos étnicos permanecem sem um único cristão, e sem acesso às Escrituras na sua língua, de modo que a evangelização transcultural precisava ser a tarefa primordial da Igreja.

A grande conquista do congresso foi o desenvolvimento do Pacto de Lausanne. John Stott presidiu o comitê de redação e é melhor descrito como arquiteto-chefe. O pacto foi uma aliança com Deus e declarado publicamente, sendo um dos documentos mais amplamente utilizado na história da igreja moderna. O Pacto tem ajudado a definir a teologia evangélica e sua prática, e montado o palco para muitas novas parcerias e alianças. No último dia do congresso, o documento foi publicamente assinado por Billy Graham e pelo bispo anglicano Jack Dain de Sydney, na Austrália. Desde então, o pacto de Lausanne foi assinado pessoalmente por milhares de crentes, e continua a servir de base para a unidade e uma chamada à evangelização global.

Mais de 70% dos presentes no congresso pediram que uma comissão fosse estabelecida para dar continuidade a discussão que se iniciara. Em janeiro de 1975 este grupo, nomeado pelo congresso, reuniu-se na Cidade do México com o Bispo Jack Dain na cadeira. Alguns membros pressionado por um foco exclusivo na evangelização, outros a favor de uma abordagem mais ampla, holística. O Comitê concordou em um objetivo unificado para "promover a missão global da Igreja, reconhecendo que nesta missão o evangelismo é primário, e que a nossa preocupação especial deve ser o [então 2,7 bilhões] de pessoas não alcançadas do mundo. Este objetivo continua a caracterizar o Movimento Lausanne”.

Desde 1974, dezenas conferências relacionadas com Lausanne têm sido convocadas. Encontros globais que incluem a Consulta sobre Evangelização Mundial (Tailândia 1980), a Conferência de Jovens Líderes (Cingapura 1987 e Malásia 2006), o Fórum para a Evangelização Mundial (Tailândia 2004). Lausanne tem inspirado muitas redes regionais como ABUB (Aliança Bíblica Universitária do Brasil), RENAS (Rede Evangélica Nacional de Ação Social), Rede Miquéias, entre outros.

O segundo congresso principal, conhecido como Lausanne ll (Manila, Filipinas, Julho de 1989) atraiu 3.000 participantes de 170 países, incluindo Europa Oriental e da União Soviética, mas, infelizmente, não a China. Lausanne ll produziu o Manifesto de Manila, como uma expressão corporativa de seus participantes.

O Terceiro Congresso Lausanne sobre Evangelização Mundial foi realizada em Cape Town, África do Sul, entre os dias 16 e 25 de outubro de 2010. O objetivo do Cape Town 2010 foi estimular o espírito de Lausanne, conforme representado no Pacto de Lausanne, e assim promover a unidade, a humildade em serviço, e uma chamada à evangelização global. Cerca de 4.000 líderes de 198 países compareceram como participantes e observadores.

Leia o Pacto de Lausanne na íntegra: aqui

EVANGELIZAÇÃO PELO TESTEMUNHO

Em sua palestra no 1º Congresso Internacional de Evangelização Mundial, realizado em Lausanne, Suíça, em julho de 1974, o teólogo argentino C. René Padilla lembrou que, por trás do êxito de José no Egito, de Ester na Pérsia e de Daniel na Babilônia, estava o testemunho desses três notáveis servos de Deus. A influência deles em três diferentes nações politeístas do Oriente Médio em três diferentes épocas resultou na abertura de muitas portas e em acontecimentos jamais esperados. Na evangelização a credibilidade da igreja e dos crentes vale mais do que qualquer outra coisa. Quem não vive o que diz crer e o que anuncia deve calar-se. Pois a sua pregação seria, na verdade, uma evangelização ao contrário. É por essa razão que São Francisco de Assis dizia com certo sarcasmo: “Evangelize sempre; se necessário, use palavras”.

Tullio Ossana, professor de teologia moral em Roma, afirma que a evangelização depende em grande parte da capacidade e das virtudes do evangelizador, que deve ser fiel e merecer credibilidade, deve levar consigo a força e a capacidade do profeta, deve acolher e viver em si mesmo a mensagem que anuncia, deve saber amar o homem que, através da mensagem, Deus quer salvar.

Nada disso é novidade. Pois Jesus, antes de enviar os doze para pregar o evangelho e curar os doentes (Lc 9.1-6), antes de enviar os setenta “a todas as cidades e lugares para onde ele estava prestes a ir” (Lc 10.1) e antes de enviar os discípulos pelo mundo todo para pregar o evangelho a todas as pessoas (Mc 16.15), disse-lhes claramente: “Vocês são o sal para a humanidade; mas se o sal perde o gosto, deixa de ser sal e não serve para mais nada [senão para ser] jogado fora e pisado pelas pessoas que passam” (Mt 5.13, NTLH). Jesus reforça o papel do testemunho, acrescentando: “Vocês são a luz para o mundo” e essa luz “deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai de vocês que está no céu” (Mt 5.14,15, NTLH). O que somos (por dentro e por fora) e o que fazemos pesa muito mais que o que anunciamos verbalmente. Precisamos ser o que Jesus foi: “Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (Jo 9.5).

Paulo reforça o discurso de Jesus e diz que nós somos o bom perfume de Cristo: “Como um perfume que se espalha por todos os lugares, somos usados por Deus para que Cristo seja conhecido por todas as pessoas” (2 Co 2.15, NTLH). Na mesma epístola, Paulo insiste mais uma vez na eficácia do testemunho: “A única carta [de apresentação] que eu necessito, são vocês, vocês mesmos! Só em ver a boa mudança em seus corações, todos podem ver que nós fazemos uma obra de valor entre vocês” (2 Co 3.2, BV).

CINCO LIÇÕES DE LAUSANNE 3

1. Não dá para cumprir o chamado missionário sem o árduo esforço da unidade.
Uma igreja desunida é uma igreja com pouca relevância, que não sente profundamente a dor do outro, não enxerga as chagas do próximo. Seu ensino sobre a vida parece frio e superficial, porque seu olhar é fechado em si mesmo. Essa verdade é relevante tanto para as igrejas locais -- que precisam desenvolver ações em parceria que proclamem com mais consistência o evangelho da reconciliação que precisa, por exemplo, olhar com mais compaixão para os cristãos que vivem em contextos de evidente perseguição religiosa.

“A unidade de Cristo não pode ser criada, é uma ação do Espírito. Por meio da verdade do evangelho, do Espírito, somos o Corpo de Cristo. Deus pede que vivamos de maneira digna da vocação a que fomos chamados. As divisões não são por diferenças teológicas, mas por orgulho”. Vaughan Roberts

2. A verdade é importante e não anda sozinha.
Assim como um náufrago precisa de terra firme, é ingênuo achar que nossa geração não precisa de -- e não clama por -- referências claras e absolutas. No entanto, em um mundo relativista, pluralista e indiferente a questões dogmáticas, como defender a verdade única do evangelho sem perder a dimensão pessoal, amorosa e humilde daquele que é a própria verdade, Jesus Cristo?

“Oro para que não haja dúvidas de que a verdade é uma questão fundamental e decisiva para este congresso e para nós, como evangélicos. A verdade não é essencialmente uma questão filosófica, mas teológica. Deus é verdade, o seu Espírito é o Espírito da verdade; sua Palavra é verdade, nossa fé é verdade, e, a menos que sejamos seguros e firmes quanto à verdade, este congresso pode terminar agora”. Os Guinness

3. A igreja é global e as antigas categorias para delimitá-la precisam ser atualizadas à luz da globalização.
O fenômeno da globalização ficou evidente em vários aspectos do congresso. O evento foi mundial; a tecnologia permitiu que 100 mil pessoas o acompanhassem pela internet. Ouvimos experiências de igrejas europeias que já não são tão homogêneas, mas têm nos bancos gente de diversas nacionalidades e provenientes de países pobres. Além desses aspectos, Lausanne 3 nos ajudou a pensar que a igreja cristã não pode mais ser desenhada simplesmente em termos geográficos.

“Cristãos conscientes não podem ignorar a extrema pobreza de milhões de pessoas, gerada pelo atual sistema econômico global controlado, em grande medida, por uma classe corrupta transnacional.” René Padilla

4. O texto bíblico e a oração são riquezas incalculáveis.
Esses dois recursos nos renovam quando as circunstâncias exigem algo mais do que argumentos humanos. São fonte de poder, de arrependimento, de amor e de sabedoria; são canais da obra do Espírito Santo no espírito humano. Abandonar essas duas práticas ou deixá-las em segundo plano é perder-se na caminhada. O texto bíblico e a oração são pilares para a compreensão orgânica da igreja de Cristo.

5. Os jovens são a grande força missionária.
Coragem, idealismo, paixão por Cristo e pelas pessoas -- esses são os recursos necessários para a mudança de geração, sem perder a herança histórica. Valorizar e reconhecer a juventude nos ajuda a celebrar o Corpo de Cristo, de tantas idades, e a discernir melhor as muitas faces e a velocidade do nosso tempo.

Além disso, por sua grandiosidade e relevância, Lausanne 3 não pode ser assimilado a curto prazo. Os jovens são personagens fundamentais para que as mais significativas mudanças aconteçam dentro e fora da igreja de Cristo. Não é à toa que 40% dos participantes eram pessoas com idade entre 20 e 40 anos. O esforço dos organizadores para que houvesse, de fato, uma representatividade de jovens líderes reforça a esperança de que o evangelho continuará sendo anunciado em todos os lugares, sem deixar de enfrentar as principais questões contemporâneas.

Ao mesmo tempo, essa evidência aumenta a responsabilidade dos mais velhos. É preciso apoiar e pastorear nossos jovens nos mais desafiadores contextos: nas periferias das grandes cidades, nas igrejas, nas escolas, nas universidades e outros lugares. Juntos, jovens e velhos precisam caminhar em alegria e em confiança. Enquanto os jovens devem honrar a sabedoria dos mais velhos, estes devem permitir que aqueles liderem projetos e comunidades até então sob suas responsabilidades.

APLICAÇÃO
O Congresso e o Pacto de Lausanne ajudaram à Igreja a redescobrir a sua missão: “o Evangelho todo, para o homem todo e para todos os homens”. É a missão que deve integrar todas as dimensões da vida, e segundo Robinson Cavalcanti deve envolver: a) proclamar as boas novas do reino; b) ensinar, batizar e instruir os convertidos; c) responder às necessidades humanas por serviço em amor; d) procurar transformar as estruturas iníquas da sociedade; e) defender a vida e a integridade da criação.

MEMORIZAR VERSÍCULO
“Havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele (Jesus), reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.” Colossenses 1:20

QUESTÕES
Como o movimento Lausanne tem contribuído para entender a missão da Igreja?
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O que você entende quando ouve o termo “missão integral”?
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Qual a importância do meu testemunho na evangelização?
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Como o evangelho pode contribuir para transformar a cultura através da Igreja?
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MATERIAL UTILIZADO
·      The Lausanne Moviment, site oficial < http://www.lausanne.org/en >
·      Revista Ultimato edições 286 e 328 – Materia de Capa < http://www.ultimato.com.br/revista >

sábado, 19 de novembro de 2011

Pacto de Lausanne


SUMÁRIO

Introdução
1. O Propósito de Deus
2. A Autoridade e o Poder da Bíblia
3. A Unicidade e a Universalidade de Cristo
4. A Natureza da Evangelização
5. A Responsabilidade Social Cristã
6. A Igreja e a Evangelização
7. Cooperação na Evangelização
8. Esforço Conjugado de Igrejas na Evangelização
9. Urgência da Tarefa Evangelística
10. Evangelização e Cultura
11. Educação e Liderança
12. Conflito Espiritual
13. Liberdade e Perseguição
14. O Poder do Espírito Santo
15. O Retorno de Cristo
Conclusão
INTRODUÇÃO


Nós, membros da Igreja de Jesus Cristo, procedentes de mais de 150 nações, participantes do Congresso Internacional de Evangelização Mundial, em Lausanne, louvamos a Deus por sua grande salvação, e regozijamo-nos com a comunhão que, por graça dele mesmo, podemos ter com ele e uns com os outros. Estamos profundamente tocados pelo que Deus vem fazendo em nossos dias, movidos ao arrependimento por nossos fracassos e desafiados pela tarefa inacabada da evangelização. Acreditamos que o evangelho são as boas novas de Deus para todo o mundo, e por sua graça, decidimo-nos a obedecer ao mandamento de Cristo de proclamá-lo a toda a humanidade e fazer discípulos de todas as nações. Desejamos, portanto, reafirmar a nossa fé e a nossa resolução, e tornar público o nosso pacto.



1. O Propósito de Deus

Afirmamos a nossa crença no único Deus eterno, Criador e Senhor do Mundo, Pai, Filho e Espírito Santo, que governa todas as coisas segundo o propósito da sua vontade. Ele tem chamado do mundo um povo para si, enviando-o novamente ao mundo como seus servos e testemunhas, para estender o seu reino, edificar o corpo de Cristo, e também para a glória do seu nome. Confessamos, envergonhados, que muitas vezes negamos o nosso chamado e falhamos em nossa missão, em razão de nos termos conformado ao mundo ou nos termos isolado demasiadamente. Contudo, regozijamo-nos com o fato de que, mesmo transportado em vasos de barro, o evangelho continua sendo um tesouro precioso. À tarefa de tornar esse tesouro conhecido, no poder do Espírito Santo, desejamos dedicar-nos novamente.



2. A Autoridade e o Poder da Bíblia

Afirmamos a inspiração divina, a veracidade e autoridade das Escrituras tanto do Velho como do Novo Testamento, em sua totalidade, como única Palavra de Deus escrita, sem erro em tudo o que ela afirma, e a única regra infalível de fé e prática. Também afirmamos o poder da Palavra de Deus para cumprir o seu propósito de salvação. A mensagem da Bíblia destina-se a toda a humanidade, pois a revelação de Deus em Cristo e na Escritura é imutável. Através dela o Espírito Santo fala ainda hoje. Ele ilumina as mentes do povo de Deus em toda cultura, de modo a perceberem a sua verdade, de maneira sempre nova, com os próprios olhos, e assim revela a toda a igreja uma porção cada vez maior da multiforme sabedoria de Deus.



3. A Unicidade e a Universalidade de Cristo

Afirmamos que há um só Salvador e um só evangelho, embora exista uma ampla variedade de maneiras de se realizar a obra de evangelização. Reconhecemos que todos os homens têm algum conhecimento de Deus através da revelação geral de Deus na natureza. Mas negamos que tal conhecimento possa salvar, pois os homens, por sua injustiça, suprimem a verdade. Também rejeitamos, como depreciativo de Cristo e do evangelho, todo e qualquer tipo de sincretismo ou de diálogo cujo pressuposto seja o de que Cristo fala igualmente através de todas as religiões e ideologias. Jesus Cristo, sendo ele próprio o único Deus-homem, que se ofereceu a si mesmo como único resgate pelos pecadores, é o único mediador entre Deus e os homems. Não existe nenhum outro nome pelo qual importa que sejamos salvos. Todos os homens estão perecendo por causa do pecado, mas Deus ama todos os homens, desejando que nenhum pereça, mas que todos se arrependam. Entretanto, os que rejeitam Cristo repudiam o gozo da salvação e condenam-se à separação eterna de Deus. Proclamar Jesus como "o Salvador do mundo" não é afirmar que todos os homens, automaticamente, ou ao final de tudo, serão salvos; e muito menos que todas as religiões ofereçam salvação em Cristo. Trata-se antes de proclamar o amor de Deus por um mundo de pecadores e convidar todos os homens a se entregarem a ele como Salvador e Senhor no sincero compromisso pessoal de arrependimento e fé. Jesus Cristo foi exaltado sobre todo e qualquer nome. Anelamos pelo dia em que todo joelho se dobrará diante dele e toda língua o confessará como Senhor.



4. A Natureza da Evangelização

Evangelizar é difundir as boas novas de que Jesus Cristo morreu por nossos pecados e ressuscitou segundo as Escrituras, e de que, como Senhor e Rei, ele agora oferece o perdão dos pecados e o dom libertador do Espírito a todos os que se arrependem e crêem. A nossa presença cristã no mundo é indispensável à evangelização, e o mesmo se dá com aquele tipo de diálogo cujo propósito é ouvir com sensibilidade, a fim de compreender. Mas a evangelização propriamente dita é a proclamação do Cristo bíblico e histórico como Salvador e Senhor, com o intuito de persuadir as pessoas a vir a ele pessoalmente e, assim, se reconciliarem com Deus. Ao fazermos o convite do evangelho, não temos o direito de esconder o custo do discipulado. Jesus ainda convida todos os que queiram segui-lo e negarem-se a si mesmos, tomarem a cruz e identificarem-se com a sua nova comunidade. Os resultados da evangelização incluem a obediência a Cristo, o ingresso em sua igreja e um serviço responsável no mundo.



5. A Responsabilidade Social Cristã

Afirmamos que Deus é o Criador e o Juiz de todos os homens. Portanto, devemos partilhar o seu interesse pela justiça e pela conciliação em toda a sociedade humana, e pela libertação dos homens de todo tipo de opressão. Porque a humanidade foi feita à imagem de Deus, toda pessoa, sem distinção de raça, religião, cor, cultura, classe social, sexo ou idade possui uma dignidade intrínseca em razão da qual deve ser respeitada e servida, e não explorada. Aqui também nos arrependemos de nossa negligência e de termos algumas vezes considerado a evangelização e a atividade social mutuamente exclusivas. Embora a reconciliação com o homem não seja reconciliação com Deus, nem a ação social evangelização, nem a libertação política salvação, afirmamos que a evangelização e o envolvimento sócio-político são ambos parte do nosso dever cristão. Pois ambos são necessárias expressões de nossas doutrinas acerca de Deus e do homem, de nosso amor por nosso próximo e de nossa obediência a Jesus Cristo. A mensagem da salvação implica também uma mensagem de juízo sobre toda forma de alienação, de opressão e de discriminação, e não devemos ter medo de denunciar o mal e a injustiça onde quer que existam. Quando as pessoas recebem Cristo, nascem de novo em seu reino e devem procurar não só evidenciar mas também divulgar a retidão do reino em meio a um mundo injusto. A salvação que alegamos possuir deve estar nos transformando na totalidade de nossas responsabilidades pessoais e sociais. A fé sem obras é morta.



6. A Igreja e a Evangelização

Afirmamos que Cristo envia o seu povo redimido ao mundo assim como o Pai o enviou, e que isso requer uma penetração de igual modo profunda e sacrificial. Precisamos deixar os nossos guetos eclesiásticos e penetrar na sociedade não-cristã. Na missão de serviço sacrificial da igreja a evangelização é primordial. A evangelização mundial requer que a igreja inteira leve o evangelho integral ao mundo todo. A igreja ocupa o ponto central do propósito divino para com o mundo, e é o agente que ele promoveu para difundir o evangelho. Mas uma igreja que pregue a Cruz deve, ela própria, ser marcada pela Cruz. Ela torna-se uma pedra de tropeço para a evangelização quando trai o evangelho ou quando lhe falta uma fé viva em Deus, um amor genuíno pelas pessoas, ou uma honestidade escrupulosa em todas as coisas, inclusive em promoção e finanças. A igreja é antes a comunidade do povo de Deus do que uma instituição, e não pode ser identificada com qualquer cultura em particular, nem com qualquer sistema social ou político, nem com ideologias humanas.



7. Cooperação na Evangelização

Afirmamos que é propósito de Deus haver na igreja uma unidade visível de pensamento quanto à verdade. A evangelização também nos convoca à unidade, porque o ser um só corpo reforça o nosso testemunho, assim como a nossa desunião enfraquece o nosso evangelho de reconciliação. Reconhecemos, entretanto, que a unidade organizacional pode tomar muitas formas e não ativa necessariamente a evangelização. Contudo, nós, que partilhamos a mesma fé bíblica, devemos estar intimamente unidos na comunhão uns com os outros, nas obras e no testemunho. Confessamos que o nosso testemunho, algumas vezes, tem sido manchado por pecaminoso individualismo e desnecessária duplicação de esforço. Empenhamo-nos por encontrar uma unidade mais profunda na verdade, na adoração, na santidade e na missão. Instamos para que se apresse o desenvolvimento de uma cooperação regional e funcional para maior amplitude da missão da igreja, para o planejamento estratégico, para o encorajamento mútuo, e para o compartilhamento de recursos e de experiências.



8. Esforço Conjugado de Igrejas na Evangelização

Regozijamo-nos com o alvorecer de uma nova era missionária. O papel dominante das missões ocidentais está desaparecendo rapidamente. Deus está levantando das igrejas mais jovens um grande e novo recurso para a evangelização mundial, demonstrando assim que a responsabilidade de evangelizar pertence a todo o corpo de Cristo. Todas as igrejas, portando, devem perguntar a Deus, e a si próprias, o que deveriam estar fazendo tanto para alcançar suas próprias áreas como para enviar missionários a outras partes do mundo. Deve ser permanente o processo de reavaliação da nossa responsabilidade e atuação missionária. Assim, haverá um crescente esforço conjugado pelas igrejas, o que revelará com maior clareza o caráter universal da igreja de Cristo. Também agradecemos a Deus pela existência de instituições que laboram na tradução da Bíblia, na educação teológica, no uso dos meios de comunicação de massa, na literatura cristã, na evangelização, em missões, no avivamento de igrejas e em outros campos especializados. Elas também devem empenhar-se em constante auto-exame que as levem a uma avaliação correta de sua efetividade como parte da missão da igreja.



9. Urgência da Tarefa Evangelística

Mais de dois bilhões e setecentos milhões de pessoas, ou seja, mais de dois terços da humanidade, ainda estão por serem evangelizadas. Causa-nos vergonha ver tanta gente esquecida; continua sendo uma reprimenda para nós e para toda a igreja. Existe agora, entretanto, em muitas partes do mundo, uma receptividade sem precedentes ao Senhor Jesus Cristo. Estamos convencidos de que esta é a ocasião para que as igrejas e as instituições para-eclesiásticas orem com seriedade pela salvação dos não-alcançados e se lancem em novos esforços para realizarem a evangelização mundial. A redução de missionários estrangeiros e de dinheiro num país evangelizado algumas vezes talvez seja necessária para facilitar o crescimento da igreja nacional em autonomia, e para liberar recursos para áreas ainda não evangelizadas. Deve haver um fluxo cada vez mais livre de missionários entre os seis continentes num espírito de abnegação e prontidão em servir. O alvo deve ser o de conseguir por todos os meios possíveis e no menor espaço de tempo, que toda pessoa tenha a oportunidade de ouvir, de compreender e de receber as boas novas. Não podemos esperar atingir esse alvo sem sacrifício. Todos nós estamos chocados com a pobreza de milhões de pessoas, e conturbados pelas injustiças que a provocam. Aqueles dentre nós que vivem em meio à opulência aceitam como obrigação sua desenvolver um estilo de vida simples a fim de contribuir mais generosamente tanto para aliviar os necessitados como para a evangelização deles.



10. Evangelização e Cultura

O desenvolvimento de estratégias para a evangelização mundial requer metodologia nova e criativa. Com a bênção de Deus, o resultado será o surgimento de igrejas profundamente enraizadas em Cristo e estreitamente relacionadas com a cultura local. A cultura deve sempre ser julgada e provada pelas Escrituras. Porque o homem é criatura de Deus, parte de sua cultura é rica em beleza e em bondade; porque ele experimentou a queda, toda a sua cultura está manchada pelo pecado, e parte dela é demoníaca. O evangelho não pressupõe a superioridade de uma cultura sobre a outra, mas avalia todas elas segundo o seu próprio critério de verdade e justiça, e insiste na aceitação de valores morais absolutos, em todas as culturas. As missões muitas vezes têm exportado, juntamente com o evangelho, uma cultura estranha, e as igrejas, por vezes, têm ficado submissas aos ditames de uma determinada cultura, em vez de às Escrituras. Os evangelistas de Cristo têm de, humildemente, procurar esvaziar-se de tudo, exceto de sua autenticidade pessoal, a fim de se tornarem servos dos outros, e as igrejas têm de procurar transformar e enriquecer a cultura; tudo para a glória de Deus.



11. Educação e Liderança

Confessamos que às vezes temos nos empenhado em conseguir o crescimento numérico da igreja em detrimento do espiritual, divorciando a evangelização da edificação dos crentes. Também reconhecemos que algumas de nossas missões têm sido muito remissas em treinar e incentivar líderes nacionais a assumirem suas justas responsabilidades. Contudo, apoiamos integralmente os princípios que regem a formação de uma igreja de fato nacional, e ardentemente desejamos que toda a igreja tenha líderes nacionais que manifestem um estilo cristão de liderança não em termos de domínio, mas de serviço. Reconhecemos que há uma grande necessidade de desenvolver a educação teológica, especialmente para líderes eclesiáticos. Em toda nação e em toda cultura deve haver um eficiente programa de treinamento para pastores e leigos em doutrina, em discipulado, em evangelização, em edificação e em serviço. Este treinamento não deve depender de uma metodologia estereotipada, mas deve se desenvolver a partir de iniciativas locais criativas, de acordo com os padrões bíblicos.



12. Conflito Espiritual

Cremos que estamos empenhados num permanente conflito espiritual com os principados e postestades do mal, que querem destruir a igreja e frustrar sua tarefa de evangelização mundial. Sabemos da necessidade de nos revestirmos da armadura de Deus e combater esta batalha com as armas espirituais da verdade e da oração. Pois percebemos a atividade no nosso inimigo, não somente nas falsas ideologias fora da igreja, mas também dentro dela em falsos evangelhos que torcem as Escrituras e colocam o homem no lugar de Deus. Precisamos tanto de vigilância como de discernimento para salvaguardar o evangelho bíblico. Reconhecemos que nós mesmos não somos imunes à aceitação do mundanismo em nossos atos e ações, ou seja, ao perigo de capitularmos ao secularismo. Por exemplo, embora tendo à nossa disposição pesquisas bem preparadas, valiosas, sobre o crescimento da igreja, tanto no sentido numérico como espiritual, às vezes não as temos utilizado. Por outro lado, por vezes tem acontecido que, na ânsia de conseguir resultados para o evangelho, temos comprometido a nossa mensagem, temos manipulado os nossos ouvintes com técnicas de pressão, e temos estado excessivamente preocupados com as estatísticas, e até mesmo utilizando-as de forma desonesta. Tudo isto é mundano. A igreja deve estar no mundo; o mundo não deve estar na igreja.



13. Liberdade e Perseguição

É dever de toda nação, dever que foi estabelecido por Deus, assegurar condições de paz, de justiça e de liberdade em que a igreja possa obedecer a Deus, servir a Cristo Senhor e pregar o evangelho sem quaisquer interferências. Portanto, oramos pelos líderes das nações e com eles instamos para que garantam a liberdade de pensamento e de consciência, e a liberdade de praticar e propagar a religião, de acordo com a vontade de Deus, e com o que vem expresso na Declaração Universal do Direitos Humanos. Também expressamos nossa profunda preocupação com todos os que têm sido injustamente encarcerados, especialmente com nossos irmãos que estão sofrendo por causa do seu testemunho do Senhor Jesus. Prometemos orar e trabalhar pela libertação deles. Ao mesmo tempo, recusamo-nos a ser intimidados por sua situação. Com a ajuda de Deus, nós também procuraremos nos opor a toda injustiça e permanecer fiéis ao evangelho, seja a que custo for. Nós não nos esquecemos de que Jesus nos previniu de que a perseguição é inevitável.



14. O Poder do Espírito Santo

Cremos no poder do Espírito Santo. O Pai enviou o seu Espírito para dar testemunho do seu Filho. Sem o testemunho dele o nosso seria em vão. Convicção de pecado, fé em Cristo, novo nascimento cristão, é tudo obra dele. De mais a mais, o Espírito Santo é um Espírito missionário, de maneira que a evangelização deve surgir espontaneamente numa igreja cheia do Espírito. A igreja que não é missionária contradiz a si mesma e debela o Espírito. A evangelização mundial só se tornará realidade quando o Espírito renovar a igreja na verdade, na sabedoria, na fé, na santidade, no amor e no poder. Portanto, instamos com todos os cristãos para que orem pedindo pela visita do soberano Espírito de Deus, a fim de que o seu fruto todo apareça em todo o seu povo, e que todos os seus dons enriqueçam o corpo de Cristo. Só então a igreja inteira se tornará um instrumento adequado em Suas mãos, para que toda a terra ouça a Sua voz.



15. O Retorno de Cristo

Cremos que Jesus Cristo voltará pessoal e visivelmente, em poder e glória, para consumar a salvação e o juízo. Esta promessa de sua vinda é um estímulo ainda maior à evangelização, pois lembramo-nos de que ele disse que o evangelho deve ser primeiramente pregado a todas as nações. Acreditamos que o período que vai desde a ascensão de Cristo até o seu retorno será preenchido com a missão do povo de Deus, que não pode parar esta obra antes do Fim. Também nos lembramos da sua advertência de que falsos cristos e falsos profetas apareceriam como precursores do Anticristo. Portanto, rejeitamos como sendo apenas um sonho da vaidade humana a idéia de que o homem possa algum dia construir uma utopia na terra. A nossa confiança cristã é a de que Deus aperfeiçoará o seu reino, e aguardamos ansiosamente esse dia, e o novo céu e a nova terra em que a justiça habitará e Deus reinará para sempre. Enquanto isso, rededicamo-nos ao serviço de Cristo e dos homens em alegre submissão à sua autoridade sobre a totalidade de nossas vidas.



CONCLUSÃO

Portanto, à luz desta nossa fé e resolução, firmamos um pacto solene com Deus, bem como uns com os outros, de orar, planejar e trabalhar juntos pela evangelização de todo o mundo. Instamos com outros para que se juntem a nós. Que Deus nos ajude por sua graça e para a sua glória a sermos fiéis a este Pacto! Amém. Aleluia!
[Lausanne, Suíça, 1974]

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

A NECESSIDADE DE UMA NOVA REFORMA



A Reforma protestante é mais do que um acontecimento histórico restrito à Europa do século 16. Seus questionamentos ainda são aplicáveis aos dias atuais.

Para falar da Reforma protestante é preciso falar de Martinho Lutero, “o gigante da Reforma”. Ele era monge da Ordem de Santo Agostinho e estudioso da teologia e das Sagradas Escrituras. O cenário religioso em que ele vivia o incomodava: via de regra, a religião não passava de adoração externa e física, baseada em símbolos sagrados, mas com pouca ou sem nenhuma importância para a vida pessoal do povo que se dizia cristão; muitos se diziam adoradores de Deus, mas o negavam por meio de suas obras. Proclamavam a existência de Deus, mas viviam como se ele não existisse. No geral, Deus não era adorado nem “em espírito”, nem “em verdade” (João 4.23-24).

Havia algo em especial que deixava Lutero indignado: a venda de indulgências (o perdão da punição pelos pecados). Naqueles dias, era comum a crença de que, depois da morte, as almas não totalmente purificadas de seus pecados tinham de sofrer por um tempo no purgatório. Entretanto, seus familiares poderiam abreviar essas aflições por meio de “cartas de indulgência” ou de perdão concedidas pelo papa. Havia também a possibilidade de alguém comprar o perdão em vida como uma espécie de seguro depois da morte ou de pecados futuros. Como obtê-las? Pagando por elas. Havia muitos vendedores de indulgências nos dias de Lutero. Era uma atividade bastante lucrativa. Esse negócio financiava projetos megalomaníacos de um clero cada vez mais corrompido pela ganância, pela ostentação e pelo amor ao dinheiro.

Lutero decidiu agir. Em 31 de outubro de 1517, ele se dirigiu à Abadia de Wittenberg, na Alemanha, e seguiu uma prática comum entre os acadêmicos de seus dias: apresentar, sustentar e defender teses (enunciados) em público. Ele expôs 95 teses, com as quais procurou discutir e questionar os mandos e desmandos por parte do papa e do clero na venda de indulgências. Ele queria discutir essas teses e promover o debate dessas ideias.

O impacto dessas teses tomou proporções inimagináveis e afetou grandemente a Europa desde então. Lutero desejava incentivar uma reforma, não uma rebelião na Igreja, mas os cismas foram inevitáveis.

Se você nunca leu essas teses, faça isso imediatamente. Elas são facilmente encontradas na Internet. A título de exemplo, eis 12 dessas teses:
Quando Jesus Cristo, nosso Senhor e Mestre, disse "Arrependei-vos", certamente queria que toda a vida dos seus crentes na terra fosse de contínuo arrependimento.
Todavia não quer que apenas se entenda o arrependimento interno; o arrependimento interno nem mesmo é arrependimento quando não produz toda espécie de modificações da carne.
O papa não pode perdoar dívida senão declarar e confirmar aquilo que já foi perdoado por Deus.
24ª
Assim sendo, a maioria do povo é ludibriada com as pomposas promessas do indistinto perdão, impressionando se o homem singelo com as penas pagas.
27ª
Pregam futilidades humanas quantos alegam que a alma se vai do purgatório no momento em que a moeda soa ao cair no gazofilácio.
28ª
Certo é que no momento em que a moeda soa no gazofilácio o lucro vem e o amor ao dinheiro cresce e aumenta; porém, somente a ajuda ou a intercessão da Igreja correspondem à vontade e ao agrado de Deus.
46ª
Deve-se ensinar aos cristãos que se não tiverem fartura, fiquem com o necessário para a casa e de maneira nenhuma o esbanjem com indulgências.
50ª
Deve-se ensinar aos cristãos que, se o papa tivesse conhecimento da traficância dos pregadores de indulgências, preferiria ver a catedral de São Pedro ser reduzida a cinzas a ser edificada com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
52º
Comete-se injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo à indulgência do que à pregação da Palavra do Senhor.
54ª
Esperar ser salvo mediante cartas de indulgência é inutilidade e mentira, mesmo se o comissário de indulgências, mesmo se o próprio papa oferecesse sua alma como garantia.
86ª
Ainda: Por que o papa, cuja fortuna hoje é mais principesca do que a de qualquer homem rico, não prefere edificar a catedral de S. Pedro de seu próprio bolso em vez de o fazer com o dinheiro de fiéis pobres?
92ª
Fora, pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Paz! Paz! e não há Paz.

Tudo isso foi dito no século 16, no seio da Igreja Romana. Mas algumas dessas teses poderiam ser adaptadas ao atual cenário evangélico. Uma breve analogia revela a veracidade dessa afirmação.
24ª
Assim sendo, a maioria do povo é ludibriada com as pomposas promessas de prosperidade financeira, impressionando-se o homem singelo com as riquezas desses pregadores.
27ª
Pregam futilidades humanas quantos alegam que o crente prosperará no momento em que a moeda soa ao cair no gazofilácio, em que ele fizer sacrifícios financeiros e barganhar com Deus.
28ª
Certo é que no momento em que a moeda soa no gazofilácio o lucro vem para esses pregadores e o amor ao dinheiro cresce e aumenta.
50ª
Deve-se ensinar aos cristãos que se os pastores que pregam a teologia da prosperidade financeira levassem a Palavra de Deus a sério, eles prefeririam ver seu império religioso ser reduzido a cinzas a ser edificado com a pele, a carne e os ossos de suas ovelhas.
52º
Comete-se injustiça contra a Palavra de Deus quando, no mesmo sermão, se consagra tanto ou mais tempo ao dinheiro ou às palavras de autoajuda do que à pregação da Palavra do Senhor.
86ª
Ainda: Por que muitos pastores e apóstolos, cuja fortuna hoje é mais principesca do que a de qualquer milionário, não prefere edificar seus templos gigantescos e suntuosos de seu próprio bolso em vez de fazê-lo com o dinheiro de fiéis pobres?
92ª
Fora, pois, com todos estes profetas que dizem ao povo de Cristo: Prosperidade! Prosperidade!, quando só há prosperidade real para eles.

A comunidade evangélica, com boas exceções, tem se rendido à Teologia da Prosperidade. Como escrevi no prefácio à segunda edição do livro Supercrentes (Mundo Cristão), do pastor Paulo Romeiro, a aplicação dessa teologia tem produzido líderes ricos, poderosos e gananciosos, e cada vez mais distanciados da simplicidade de Cristo, enxergando a vida piedosa como meio de ganho. Ávidos pelo poder, criaram megaigrejas, compraram mansões, tornaram-se celebridades. O poder os corrompeu. Essa teologia não produziu crentes melhores, mas crentes doentes, confusos e em eterno conflito, pois estes não veem os resultados práticos da aplicação dos princípios que fazem de seus líderes o que eles mesmos gostariam de ser.

Estamos vivendo um período como o que deu origem à Reforma, mas desta vez no meio evangélico. Alas da Igreja evangélica estão cada vez mais sedentas e possuídas pelo poder político e pelas coisas do mundo. Alianças políticas são traçadas a fim de atingir esses objetivos. Eles financiam “Marchas para Jesus” com o intuito de se prostituírem com os poderosos e obterem favores políticos e financeiros. Valem-se das boas intenções de eventos desse tipo para alcançarem seus objetivos nefastos. Muitos afirmam que querem "O Brasil para o Senhor Jesus", mas suas práticas revelam que querem o Brasil do Senhor Jesus.

A mídia, infelizmente, vem se fartando com a quantidade de matéria-prima na área ética produzida por uma liderança corrompida. Foi-se o tempo em que a designação "evangélico" era símbolo de seriedade e respeito. Hoje, é motivo de chacota. É lamentável e vergonhoso ver líderes religiosos sendo acusados de formação de quadrilha, lavagem de dinheiro, entre outras práticas dessas categorias. Os exemplos pululam por aí.

Precisamos orar para que surja uma geração de novos Luteros, de gente que pensa antes de dar aceitação a qualquer nova doutrina ou a qualquer novo líder, por mais carismático que seja. Que surja a geração do "ponham à prova todas as coisas e fiquem com o que é bom" (1Ts 5:21; NVI) e do "não creiam em qualquer espírito, mas examinem os espíritos para ver se eles procedem de Deus..." (1Jo 4:1; NVI).

Que o espírito da Reforma não morra por nossa covardia nos calabouços da Teologia da Prosperidade, das práticas supersticiosas (sal grosso, rosa ungida, óleos milagrosos, lágrimas curativas etc.), dos falsos mestres, apóstolos, pastores, primazes, bispos e missionários (seja qual for a nomenclatura que adotem), que tosquiam seus rebanhos para financiar o culto aos seus egos e sua vida luxuosa.

Mas não podemos olhar para a Reforma pensando apenas nos outros. Precisamos também nos avaliar. Aproveitemos também o momento para refletir nos aspectos de nossa vida que necessitam de reforma. Como anda nosso padrão de vida no Senhor? Estamo-nos parecendo cada vez mais com Jesus? Nosso caráter tem sido moldado à imagem de Cristo? Temos cultivado as disciplinas espirituais, as quais nos conduzem a um estilo de vida que agrada a Deus, como a oração e a leitura da Palavra? Estamos sendo fiéis mordomos, administrando corretamente nossos dons, nossas paixões e nossa personalidade? Estamos lutando contra as tentações, enfrentando os perigos do dinheiro, do sexo e do poder? (Para ajudar nessa tarefa, quero lhe recomendar o livro “Elementos essenciais da liderança: visão, influência, caráter”, de Greg Ogden e Daniel Meyer, publicado pela Editora Vida).

 Aldo Menezes é Presbítero na Diocese do Recife; editor de teologia e filosofia; sendo clérigo na Região Eclesiástica 1, no Arcediagado PB/RN da Diocese.