domingo, 20 de novembro de 2011

LAUSANNE E AS NOVAS CONFIGURAÇÕES DA IGREJA NO MUNDO



TEXTO BASE: Colossenses1:9-23

INTRODUÇÃO
Uma discussão bastante comum na Igreja contemporânea é sobre a relação da proclamação do evangelho e a promoção da justiça na evangelização e missão da Igreja. Qual é o mais importante? O que vem antes?

            O movimento de Lausanne nos ajudou muito nesta temática, lembrando-nos da missão inacabada de proclamar o evangelho a toda criatura e ao mesmo tempo não se esquecer de que o evangelho deve promover mudanças profundas na nossa sociedade combatendo o mal, um tema muito comum nos ensinos de Jesus e dos apóstolos.

MOVIMENTO LAUSANNE
A história de Lausanne começa com o evangelista Dr. Billy Graham. Como ele começou a pregar internacionalmente, ele desenvolveu uma paixão para "unir todos os evangélicos na tarefa comum de evangelização total do mundo".
John Stott e Billy Graham

Em 1966, a Associação Evangelística Billy Graham, em parceria com a revista americana “Christianity Today” (Cristianismo Hoje), patrocinou o Congresso Mundial de Evangelismo em Berlim. Este encontro atraiu 1.200 delegados de mais de 100 países, e inspirou outras conferências em Cingapura (1968), Minneapolis e Bogotá (1969) e Austrália (1971). Pouco depois, Billy Graham percebeu a necessidade de um congresso maior e mais abrangente para discutir a missão cristã em um mundo de muita agitação social, política, econômica e religiosa. A Igreja, ele acreditava, devria aplicar o evangelho ao mundo contemporâneo, e trabalhar para compreender as ideias e os valores por trás das mudanças rápidas na sociedade. Ele compartilhou seu pensamento com 100 líderes cristãos, provenientes de todos os continentes, e juntos organizaram o primeiro congresso de Lausanne.

Em julho de 1974, cerca de 2.700 participantes e convidados de mais de 150 nações se reuniram em Lausanne, na Suíça, durante dez dias de discussão, adoração, comunhão e oração. Dada a variedade de nacionalidades, etnias, idades, ocupações e igreja afiliadas, a revista “TIME” descreveu como "um fórum formidável, possivelmente a reunião mundial mais representativa e abrangente dos cristãos já realizada".

O congresso contou com a participação de alguns dos pensadores cristãos mais respeitado do mundo na época, incluindo Samuel Escobar, Francis Schaeffer, Henry Carl e John Stott. Numa das assembleias, o missionário presbiteriano Ralph Winter introduziu o termo "povos não alcançados", lembrando que milhares de grupos étnicos permanecem sem um único cristão, e sem acesso às Escrituras na sua língua, de modo que a evangelização transcultural precisava ser a tarefa primordial da Igreja.

A grande conquista do congresso foi o desenvolvimento do Pacto de Lausanne. John Stott presidiu o comitê de redação e é melhor descrito como arquiteto-chefe. O pacto foi uma aliança com Deus e declarado publicamente, sendo um dos documentos mais amplamente utilizado na história da igreja moderna. O Pacto tem ajudado a definir a teologia evangélica e sua prática, e montado o palco para muitas novas parcerias e alianças. No último dia do congresso, o documento foi publicamente assinado por Billy Graham e pelo bispo anglicano Jack Dain de Sydney, na Austrália. Desde então, o pacto de Lausanne foi assinado pessoalmente por milhares de crentes, e continua a servir de base para a unidade e uma chamada à evangelização global.

Mais de 70% dos presentes no congresso pediram que uma comissão fosse estabelecida para dar continuidade a discussão que se iniciara. Em janeiro de 1975 este grupo, nomeado pelo congresso, reuniu-se na Cidade do México com o Bispo Jack Dain na cadeira. Alguns membros pressionado por um foco exclusivo na evangelização, outros a favor de uma abordagem mais ampla, holística. O Comitê concordou em um objetivo unificado para "promover a missão global da Igreja, reconhecendo que nesta missão o evangelismo é primário, e que a nossa preocupação especial deve ser o [então 2,7 bilhões] de pessoas não alcançadas do mundo. Este objetivo continua a caracterizar o Movimento Lausanne”.

Desde 1974, dezenas conferências relacionadas com Lausanne têm sido convocadas. Encontros globais que incluem a Consulta sobre Evangelização Mundial (Tailândia 1980), a Conferência de Jovens Líderes (Cingapura 1987 e Malásia 2006), o Fórum para a Evangelização Mundial (Tailândia 2004). Lausanne tem inspirado muitas redes regionais como ABUB (Aliança Bíblica Universitária do Brasil), RENAS (Rede Evangélica Nacional de Ação Social), Rede Miquéias, entre outros.

O segundo congresso principal, conhecido como Lausanne ll (Manila, Filipinas, Julho de 1989) atraiu 3.000 participantes de 170 países, incluindo Europa Oriental e da União Soviética, mas, infelizmente, não a China. Lausanne ll produziu o Manifesto de Manila, como uma expressão corporativa de seus participantes.

O Terceiro Congresso Lausanne sobre Evangelização Mundial foi realizada em Cape Town, África do Sul, entre os dias 16 e 25 de outubro de 2010. O objetivo do Cape Town 2010 foi estimular o espírito de Lausanne, conforme representado no Pacto de Lausanne, e assim promover a unidade, a humildade em serviço, e uma chamada à evangelização global. Cerca de 4.000 líderes de 198 países compareceram como participantes e observadores.

Leia o Pacto de Lausanne na íntegra: aqui

EVANGELIZAÇÃO PELO TESTEMUNHO

Em sua palestra no 1º Congresso Internacional de Evangelização Mundial, realizado em Lausanne, Suíça, em julho de 1974, o teólogo argentino C. René Padilla lembrou que, por trás do êxito de José no Egito, de Ester na Pérsia e de Daniel na Babilônia, estava o testemunho desses três notáveis servos de Deus. A influência deles em três diferentes nações politeístas do Oriente Médio em três diferentes épocas resultou na abertura de muitas portas e em acontecimentos jamais esperados. Na evangelização a credibilidade da igreja e dos crentes vale mais do que qualquer outra coisa. Quem não vive o que diz crer e o que anuncia deve calar-se. Pois a sua pregação seria, na verdade, uma evangelização ao contrário. É por essa razão que São Francisco de Assis dizia com certo sarcasmo: “Evangelize sempre; se necessário, use palavras”.

Tullio Ossana, professor de teologia moral em Roma, afirma que a evangelização depende em grande parte da capacidade e das virtudes do evangelizador, que deve ser fiel e merecer credibilidade, deve levar consigo a força e a capacidade do profeta, deve acolher e viver em si mesmo a mensagem que anuncia, deve saber amar o homem que, através da mensagem, Deus quer salvar.

Nada disso é novidade. Pois Jesus, antes de enviar os doze para pregar o evangelho e curar os doentes (Lc 9.1-6), antes de enviar os setenta “a todas as cidades e lugares para onde ele estava prestes a ir” (Lc 10.1) e antes de enviar os discípulos pelo mundo todo para pregar o evangelho a todas as pessoas (Mc 16.15), disse-lhes claramente: “Vocês são o sal para a humanidade; mas se o sal perde o gosto, deixa de ser sal e não serve para mais nada [senão para ser] jogado fora e pisado pelas pessoas que passam” (Mt 5.13, NTLH). Jesus reforça o papel do testemunho, acrescentando: “Vocês são a luz para o mundo” e essa luz “deve brilhar para que os outros vejam as coisas boas que vocês fazem e louvem o Pai de vocês que está no céu” (Mt 5.14,15, NTLH). O que somos (por dentro e por fora) e o que fazemos pesa muito mais que o que anunciamos verbalmente. Precisamos ser o que Jesus foi: “Enquanto estou no mundo, sou a luz do mundo” (Jo 9.5).

Paulo reforça o discurso de Jesus e diz que nós somos o bom perfume de Cristo: “Como um perfume que se espalha por todos os lugares, somos usados por Deus para que Cristo seja conhecido por todas as pessoas” (2 Co 2.15, NTLH). Na mesma epístola, Paulo insiste mais uma vez na eficácia do testemunho: “A única carta [de apresentação] que eu necessito, são vocês, vocês mesmos! Só em ver a boa mudança em seus corações, todos podem ver que nós fazemos uma obra de valor entre vocês” (2 Co 3.2, BV).

CINCO LIÇÕES DE LAUSANNE 3

1. Não dá para cumprir o chamado missionário sem o árduo esforço da unidade.
Uma igreja desunida é uma igreja com pouca relevância, que não sente profundamente a dor do outro, não enxerga as chagas do próximo. Seu ensino sobre a vida parece frio e superficial, porque seu olhar é fechado em si mesmo. Essa verdade é relevante tanto para as igrejas locais -- que precisam desenvolver ações em parceria que proclamem com mais consistência o evangelho da reconciliação que precisa, por exemplo, olhar com mais compaixão para os cristãos que vivem em contextos de evidente perseguição religiosa.

“A unidade de Cristo não pode ser criada, é uma ação do Espírito. Por meio da verdade do evangelho, do Espírito, somos o Corpo de Cristo. Deus pede que vivamos de maneira digna da vocação a que fomos chamados. As divisões não são por diferenças teológicas, mas por orgulho”. Vaughan Roberts

2. A verdade é importante e não anda sozinha.
Assim como um náufrago precisa de terra firme, é ingênuo achar que nossa geração não precisa de -- e não clama por -- referências claras e absolutas. No entanto, em um mundo relativista, pluralista e indiferente a questões dogmáticas, como defender a verdade única do evangelho sem perder a dimensão pessoal, amorosa e humilde daquele que é a própria verdade, Jesus Cristo?

“Oro para que não haja dúvidas de que a verdade é uma questão fundamental e decisiva para este congresso e para nós, como evangélicos. A verdade não é essencialmente uma questão filosófica, mas teológica. Deus é verdade, o seu Espírito é o Espírito da verdade; sua Palavra é verdade, nossa fé é verdade, e, a menos que sejamos seguros e firmes quanto à verdade, este congresso pode terminar agora”. Os Guinness

3. A igreja é global e as antigas categorias para delimitá-la precisam ser atualizadas à luz da globalização.
O fenômeno da globalização ficou evidente em vários aspectos do congresso. O evento foi mundial; a tecnologia permitiu que 100 mil pessoas o acompanhassem pela internet. Ouvimos experiências de igrejas europeias que já não são tão homogêneas, mas têm nos bancos gente de diversas nacionalidades e provenientes de países pobres. Além desses aspectos, Lausanne 3 nos ajudou a pensar que a igreja cristã não pode mais ser desenhada simplesmente em termos geográficos.

“Cristãos conscientes não podem ignorar a extrema pobreza de milhões de pessoas, gerada pelo atual sistema econômico global controlado, em grande medida, por uma classe corrupta transnacional.” René Padilla

4. O texto bíblico e a oração são riquezas incalculáveis.
Esses dois recursos nos renovam quando as circunstâncias exigem algo mais do que argumentos humanos. São fonte de poder, de arrependimento, de amor e de sabedoria; são canais da obra do Espírito Santo no espírito humano. Abandonar essas duas práticas ou deixá-las em segundo plano é perder-se na caminhada. O texto bíblico e a oração são pilares para a compreensão orgânica da igreja de Cristo.

5. Os jovens são a grande força missionária.
Coragem, idealismo, paixão por Cristo e pelas pessoas -- esses são os recursos necessários para a mudança de geração, sem perder a herança histórica. Valorizar e reconhecer a juventude nos ajuda a celebrar o Corpo de Cristo, de tantas idades, e a discernir melhor as muitas faces e a velocidade do nosso tempo.

Além disso, por sua grandiosidade e relevância, Lausanne 3 não pode ser assimilado a curto prazo. Os jovens são personagens fundamentais para que as mais significativas mudanças aconteçam dentro e fora da igreja de Cristo. Não é à toa que 40% dos participantes eram pessoas com idade entre 20 e 40 anos. O esforço dos organizadores para que houvesse, de fato, uma representatividade de jovens líderes reforça a esperança de que o evangelho continuará sendo anunciado em todos os lugares, sem deixar de enfrentar as principais questões contemporâneas.

Ao mesmo tempo, essa evidência aumenta a responsabilidade dos mais velhos. É preciso apoiar e pastorear nossos jovens nos mais desafiadores contextos: nas periferias das grandes cidades, nas igrejas, nas escolas, nas universidades e outros lugares. Juntos, jovens e velhos precisam caminhar em alegria e em confiança. Enquanto os jovens devem honrar a sabedoria dos mais velhos, estes devem permitir que aqueles liderem projetos e comunidades até então sob suas responsabilidades.

APLICAÇÃO
O Congresso e o Pacto de Lausanne ajudaram à Igreja a redescobrir a sua missão: “o Evangelho todo, para o homem todo e para todos os homens”. É a missão que deve integrar todas as dimensões da vida, e segundo Robinson Cavalcanti deve envolver: a) proclamar as boas novas do reino; b) ensinar, batizar e instruir os convertidos; c) responder às necessidades humanas por serviço em amor; d) procurar transformar as estruturas iníquas da sociedade; e) defender a vida e a integridade da criação.

MEMORIZAR VERSÍCULO
“Havendo feito a paz pelo sangue da sua cruz, por meio dele (Jesus), reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.” Colossenses 1:20

QUESTÕES
Como o movimento Lausanne tem contribuído para entender a missão da Igreja?
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O que você entende quando ouve o termo “missão integral”?
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Qual a importância do meu testemunho na evangelização?
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Como o evangelho pode contribuir para transformar a cultura através da Igreja?
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MATERIAL UTILIZADO
·      The Lausanne Moviment, site oficial < http://www.lausanne.org/en >
·      Revista Ultimato edições 286 e 328 – Materia de Capa < http://www.ultimato.com.br/revista >

2 comentários:

  1. Um grande abatimento me atinge a alma, o convívio em uma igreja ("histórica e reformada"), mas com "líderes" que insistem em ensinar a ideia das doutrinas personalizadas como regras absolutas, corretas e inquestionáveis, em detrimento das outras denominações religiosas, penso que esse é o maior entrave à necessária reforma religiosa em nosso tempo. Que os encontros do movimento de Lausanne, possam gerar frutos regados pelo Espirito de Deus, e, num tempo oportuno trazer refrigério à almas desalentadas e sedentas como a minha, tão somente para Sua Igreja, líderes destituídos do ego-conhecimento, salvação de almas e Glória d'Ele.

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  2. ...e penso que a forma ou meio de Deus para promover o tão sonhado avivamento ou reforma da igreja (no Brasil), é senão através de uma tão severa perseguição, por meio da qual O Senhor depurará e revelará os seus, em sua Igreja.

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